O que chama a atenção do público num vídeo ou num áudio é a colocação de voz, a postura, a naturalidade, o sorriso. E algumas vezes – intromissões de felinos – depois uma montanha de livros e a capacidade de nos fazer viajar pelas palavras de autores consagrados e outros pura (e simplesmente) desconhecidos. Já dei por mim a comprar um livro sugerido pela Roberta, e não me arrependi. Contactá-la foi mais do que um objectivo, não só por falarmos a mesma língua mas por partilharmos paixões inexplicáveis, como o Porto.
Roberta Frontini nasceu no sul de Itália, no paraíso da pasta, do risotto, da doce Julieta. Com formação na área da psicologia e investigadora na área da Saúde, Roberta lançou há quase uma década o projecto FLAMES_MR com uma amiga. Baterista nos tempos em que não se deleita por palavras de Agatha Christie ou Tânia Ganho (de quem leu o último “Apneia” e adorou) e é uma adepta dos nasceres do dia no Alentejo, por onde passou este verão de 2020. Por vezes viaja ao Porto para matar saudades (ah! sim, e levar mais um livro para a sua vasta biblioteca).
FA – Roberta, o que fica de um livro? A primeira frase, o primeiro acontecimento marcante ou a última palavra?
RF – Cada livro é único. Não saberia responder. Há livros onde o que me toca é a escrita. Noutros a história… depende muito.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo, ou foi uma paixão que surgiu com o avançar da juventude?
RF – Desde cedo. Provavelmente a culpa é da minha mãe que sempre leu muito. Por outro lado, também me lembro do meu pai me ler (e inventar) algumas histórias. Tenho vídeos meus onde ainda não falava, com livros na mão (virados de pernas para o ar!!) e eu a ler (a inventar sons na verdade) em voz alta.
FA – Em algumas fases dos livros (fruto da tua formação) defines um perfil mais pormenorizado da personagem que o autor?
RF – Sim… acho que sim. Não é bem um perfil, mas quando aparece uma personagem com uma perturbação mental é comum eu escrever alguns dos critérios de diagnóstico de lado. Mesmo que a personagem não tenha um diagnóstico definido eu costumo sublinhar e colocar de lado o nome da possível perturbação /ou o sintoma.
FA – De todos os autores que admiras, a qual gostarias de fazer duas perguntas difíceis?
RF – Talvez ao Charles Dickens e à Agatha Christie, mas já não o poderei fazer nesta vida (sorrisos!)
FA – É mais difícil ler um livro complexo ou explicar a paixão pelo Porto?
RF – Boa questão (sorrisos!), não sei bem porque a cidade do Porto mexe tanto comigo. Acho-a linda, e as pessoas são maravilhosas!
FA – Se fizermos uma passagem (atrás no tempo) que Roberta vês numa moldura da cómoda da avó?
RF – Fotos de uma menina sempre sorridente mas com um olhar tímido…
FA – Com raízes em Itália, que sensações experimentas numa cidade como Verona?
RF – Eu nasci no sul da Itália, por isso todas as minhas viagens ao norte (Verona, Milão, Brescia, Bergamo, etc.) me deixaram um pouco… insatisfeita (tirando Veneza). Por exemplo, em termos de comida, fiquei um pouco desgostosa. Mas Verona foi uma agradável surpresa até…
FA – Leva-nos agora ao filme “Letters to Juliet”. Partirias numa aventura como a doce Sophia?
RF – Olha, esta pergunta lembrou-me a minha ida a Verona. Na altura em que fui a Verona foi inserido numa viagem que fiz com o meu pai ao norte de Itália. Não estava estipulado irmos a Verona. No avião meti um filme ao acaso e calhou o “Letters to Juliet”. Passado uns dias os amigos onde estávamos hospedes perguntaram se queríamos ir a Verona e eu disse logo que sim. Foi muito interessante estar na cidade depois de ter visto o filme. Mas respondendo à pergunta… claro que sim!
FA – Numa viagem por Itália, que obras te acompanhariam?
RF – Sou uma exagerada, quando vou de viagem levo imensos livros. Tenho o terror de ficar sem nada para ler. Mas quando vou a Itália geralmente não levo nenhum e vou comprando. Na minha última ida lá descobri os livros de Andrea Camilleri que, na minha opinião, devem ser lidos em italiano. O dialeto siciliano, a cultura, as comidas, e a atmosfera de mistério que os livros impregnam são aspetos maravilhosos. Um outro livro que acho adequado é “Pictures from Italy” de Charles Dickens que nada mais é do que um diário das suas viagens por algumas das cidades italianas mais importantes.
FA – O primeiro livro é como o primeiro amor? Não se esquece?
RF – Não… o primeiro livro não se esquece, sem dúvida! Lembro-me como se fosse hoje das sensações que senti com o meu primeiro livro! O primeiro amor já esqueci (sorrisos!).
FA – Perdes-te por uma série da Netflix ou trocavas facilmente por um conjunto de livros de autores que admiras?
RF – Perco, mas troco facilmente! Claro!
FA – No YouTube (entre as montanhas de livros apresentados) mostraste uma Graphic Novel de Anne Frank, fazendo uma viagem no tempo em que leste pela primeira vez. Há livros que voltarias a pegar?
RF – Sim… há imensos livro que eu gostaria imenso de reler. No entanto: “So many books, so little time”. Posto isto, devo dizer que estou a reler alguns livros da Agatha Christie e do Charles Dickens, e releio todos os anos “O Principezinho” (ultimamente tenho relido em outras línguas para variar um bocadinho).
FA – Aguardar por um livro e depois achar a sinopse bem mais interessante que o conteúdo, que sentimentos te invadem?
RF – Pois… publicidade enganosa… fico um pouco enraivecida, e é por isso que tento não as ler.
FA – Deste alguma importância à “polémica” de J.K. Rowling no que se refere à Livraria Lello e que afinal de contas não conhecia e nunca lá tinha estado?
RF – Não. Acho que há coisas bem mais importantes para se discutir nos tempos que correm.
FA – Numa maratona literária, o que é mais incomodativo? As mensagens no WhatsApp ou uma dor de cabeça?
RF – (sorrisos!) as perguntas incessantes que algumas pessoas fazem e que estão explicitamente explicadas nas regras. Bastava lerem as regras.
FA – Do projecto de entrevistas “O teu FLAMES num ano 2019” que conversas foram mais fáceis de conseguir?
RF – Adoro o projeto “O teu FLAMES num ano…”. Espero voltar a fazer em 2020. Não consigo nomear uma pessoa, mas gostaria de dizer que às vezes os autores/personalidades que achamos mais “inacessíveis” são os mais “fáceis”.
FA – A barreira de um milhão de visitas teve um sabor especial?
RF – Confesso que não porque eu sou extremamente despistada com estas coisas.
FA – Que principais entraves encontraram no início do projecto Flames?
RF – Chegar a mais pessoas. No início as redes sociais estavam a começar… por isso aumentar o número de seguidores era difícil. Lembro-me que passamos muito tempo com 6 seguidores…
FA – Na rúbrica “Lembram-se?” conseguimos ver que nem sempre a fama é uma coisa boa. Que história marcou mais?
RF – Tenho de repescar essa rúbrica. É das minhas rúbricas favoritas. Faz-me procurar e pesquisar coisas e faz-me ficar nostálgica. Acho que a história que me marcou mais foi a do “menino da Kinder”.
FA – Que voz convidariam para uma leitura encenada de poesia ou um conto?
RF – Uma pessoa que já faleceu… a minha voz favorita no mundo inteiro: Alan Rickman.
FA – Da esfera dos blogues, quais marcaram? E dos que fecharam, alguns disseste em silêncio “ainda bem…”?
RF – Nunca senti “felicidade” por algum blogue ter fechado… Na esfera dos blogues houve uma altura em que havia muita competitividade. Mas depois quando comecei a integrar-me na comunidade booktuber tive o sentimento contrário e acabei por esquecer um pouco isso. Os booktubers são muito mais simpáticos (desculpem a honestidade). Um blogue de que gosto particularmente é o “Livros e Papel” da Inês. Gosto muito dela.
FA – O silêncio para a leitura ou uma seleção musical distinta?
RF – Silêncio! Gosto demasiado de música e isso distrai-me.
FA – “Se eu pudesse…” – o que te vem primeiro à cabeça?
RF – Passava a vida a ler (muito óbvio, mas foi sincero).
FA – Um livro já foi o mote para um amor?
RF – O mote não… mas sem dúvida que tiveram um papel fundamental 😊
FA – Um dia perfeito tem literatura, Itália e um pedaço de Porto?
RF – Sem dúvida. E música. Mas queria aproveitar para dizer que estas férias tive o privilégio de conhecer melhor o Alentejo, e está a ganhar um espaço importante também no meu coração 😊
FA – Obrigado 🙂
RF – Obrigada eu!
“O sal, das minhas lágrimas de amor
Criou um mar que existe entre nós dois
Para nos unir e separar…”
Na preparação da nossa viagem, quem fez companhia é uma dupla “improvável” – um fado de Vinícius de Moraes e a voz quente de Carminho. Podemos vir até falar de amor, sobre paisagens, mas será sempre por Portugal, pelo Brasil, pelo céu azul do Algarve e os socalcos do Douro.
Caliandra Belniowski é uma referência na arte de saborear o vinho (wine influencer do ano), uma diva no prazer de incendiar um charuto na companhia da lua e, uma musa que inspiraria (estamos certos!) o mais puro dos poetas. Não é difícil imaginar Jobim / Vinícius ou Fernando Pessoa a desenharem os seus traços em palavras. A primeira vez que vi Caliandra foi numa reportagem da SIC na lonjura alentejana com mais um punhado de entusiastas do prazer de Baco.
A sua história especial com Portugal tem os tons da capital, mas não consegue desligar-se de forma alguma dos socalcos do Douro e da cidade do Porto – onde espera um dia viver.
FA – Caliandra, obrigado por esta conversa entre dois continentes. Para quebrar este “gelo” e a distância social, que vinho escolherias para um início de conversa?
CB – Bom meu caro, eu que agradeço o convite e para que você brinde comigo num momento mágico, como esta maravilhosa conversa será, escolho o Scala Coeli, um monocasta de Alicante Bouschet da Adega Cartuxa, um vinho que o nome já diz para o que veio,”Escada para o céu”, nos levando para outra dimensão, um vinho singular dessa uva da qual sou fã e que representa muito bem Portugal e a mim! Uma uva tintureira, marcante, impossível passar desarpercebida por ela, intensa e surpreendente na cor, nos aromas e no paladar!
FA – Se tivesses vivido no tempo da Grécia Antiga, que conselho darias a Baco quando ele criou o vinho?
CB – Ahh as vezes me ponho a pensar em tais épocas, me fascinam, acho que falaria beba com moderação haha!
FA – O vinho é uma arte, que tem o seu custo e o trabalho. O respeito pela matéria, pelas pessoas que o trabalham e dão vida, ficou ainda mais elevado quando conheceste o terreno?
CB – Ahh com toda certeza, quando você conhece as pessoas da região, aquelas que colocam a sua mão na massa que vivem daquilo, você mesmo quando não gosta de um vinho, consegue perceber mesmo assim o valor e a importância que ele tem.
FA – Com esta vontade de falar de vinhos e de conhecer um pouco mais de um ser que emana luz, esqueci-me de perguntar se podia tratar por tu 🙂 desculpa! Um copo, é uma via para os sorrisos e um serão bem passado?
CB – És um querido, pode me tratar por tu, claro! Sem dúvida, eu costumo dizer que o vinho é uma bebida mágica ( quando na medida certa), capaz de derreter os corações gelados e fazem a mascara do medo, da timidez e da insegurança caírem ao chão, revelando sorrisos mais inebriantes, por isso também é considerada uma bebida romântica.
FA – Como foi o primeiro contacto com o vinho? Agradável ou nem por isso?
CB – Não foi amor a primeira vista! Eu não consumia nenhum tipo de bebida alcoolica e o meu paladar não estava acostumado para os primeiros vinhos que degustei, me lembro até que alguns achei desagradável. Mas sabia que existia ali algo que me atraia, então insisti até que em um vinho verde, encontrei a minha porta de entrada para o mundo do vinho e agora estou cá.
FA – O mundo tem lugares com características únicas para a cultura vínica. Que regiões do mundo conheces (além do Douro e Alentejo)?
CB – Já visitei Mendoza na Argentina e o Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul – Brasil, mas ainda há muito por conhecer e desvendar neste mundo vinico.
FA – Alguma delas se assemelha aos socalcos e ao rio especial que atravessa a cidade do Porto e Gaia?
CB – Para quem aprecia vinho, cada região é mágica, revela segredos em suas taças deste mundo que é incessantemente surpreendente! Para os apaixonados pelo vinho, costumo dizer que funciona igual a um casamento, diferente daquele flerte ou relacionamento despretencioso, com quem saimos algumas vezes, quando dá vontade a gente vê, mas nos mantemos sempre na superficialidade! No casamento, vamos a fundo, conhecemos a história, a família de onde vieram, as características, os defeitos… e assim seguimos tentando desvendar e conhecer todos os processos e entendemos que uma má experiencia, faz parte do aprendizado e não é isso que nos leva ao divórcio (risos!). Então posso dizer que as ainda poucas regiões que conheço, são únicas por natureza, todas me marcaram de um jeito especial e pretendo revisitar todas com mais tempo. O Douro ahhh o Douro, é impossível não se emocionar, tem o poder de nos fazer viajar no tempo e sentir a coragem que tiveram os trabalhadores que plantaram cada vinha, revivemos as suas dificuldades. Olhamos o rio e imaginamos aquelas embarcações antigas que desciam o Douro transportando os barris cheios de vinho. Estar ali é para os que casaram com o vinho uma lua de mel e para os que flertam, com certeza ali começam a considerar um relacionamento mais profunto e duraDouro como o Douro!
FA – A minha avó, que viveu até aos noventa e nove não tinha o hábito do vinho, mas não dispensava nas datas especiais um vinho do Porto. Que características te vem à memória que fazem dele um dos mais antigos do mundo?
CB – A característica principal você mesmo a descreveu, a tradição! Nem mesmo a sua sábia avó não dispensava a bebida nas comemorações, é o peso cultural que existe em algumas regiões, sobretudo do velho mundo. Depois, a influência dos grandes produtores e exportadores de vinho do Porto, que fizeram do Douro a primeira região com denominação de origem!
FA – A primeira fotografia que vi tua, foi na Quinta do Crasto (sou fã incondicional de néctares de 2015, especialmente tintos). Um fim de tarde naquela varanda e um “Vinha da Ponte” ou um “Vinha Maria Teresa” que sabor tem?
CB – Difícil fazer uma descrição que faça juz ao momento que apreciei ali, mas farei uma comparação para que os leitores tenham um noção e que ao mesmo tempo os deixe com vontade de ter a mesma experiência! Aos que apreciam vinho, sabem que na enogastronomia, numa harmonização perfeita, o sabor do vinho em comunhão com o sabor do alimento, criam o que chamamos de terceiro sabor, eles se complementam de maneira que um eleva a qualidade e o sabor do outro! Acho que a maneira mais simples de explicar o que senti ali! Um vinho da Quinta do Crasto harmonizado com aquela vista, criaram para mim o terceiro sabor. Individualmente, degustar o vinho ou apreciar aquela atmosfera já teria sido um prazer , mas os dois juntos me deixaram fazer parte de uma obra de arte, eternizada no tempo e guardada no meu coração!
FA – O que para ti funciona melhor numa tábua de queijos?
CB – A fome e a vontade de comer (risos!), brincadeira! Bom o vinho eu defino, na grande maioria das vezes pelo meu humor e sou daquelas pessoas que primeiro escolhe o vinho e depois decide o que irá comer, é claro que isso as vezes pode não dar certo, mas é que para mim a melhor parte da refeição é a que se bebe. Numa tábua de queijos, há sempre muitas variedades e intensidades de queijo, sendo que cada um seria apropriado um vinho especifico, nestes casos é aconselhado o gosto pessoal de cada um. Como um coringa acho os espumantes uma boa opção e os tintos leves de acidez mais elevada, para ajudar na limpeza do paladar.
FA – Combinação de castas ou monocasta? Experimentei recentemente uma casta Syrah do Alentejo e também (já fora desta quarentena) um Touriga Nacional da Quinta do Vallado.
CB – Eu aprecio muito monocastas como forma de aprender, de poder ver as particularidades de uma variedade em especifico, mas os vinhos de corte têm meu respeito e admiração, acho simplesmente lindo o trabalho enológico quase mágico, de fazer com que as castas se complementem na medida certa, uma integrando nos entregando muito mais.
FA – Em Abril (17) partilhaste no teu Instagram @brinda_comigo um conjunto de imagens em Catena Zapata. Que diferenças ao primeiro trago encontras num vinho argentino e um português?
CB – Bom, uma das principais diferenças seria a variedade de castas que encontramos na grande maioria dos vinhos portugueses que muitas vezes nem mencionadas são, enquanto na Argentina a uva emblemática e que é responsavel pela maioria dos rótulos produzidos por lá, é a Malbec. Depois as diferenças olfativas e gustativas podem variar muito pelo terroir de suas sub-regiões, mas com toda a certeza de que os dois países produzem com muita qualidade.
FA – Um bocadinho antes, em Março uma fotografia carregada de glamour e um texto que dizias “… o fato é que demoramos imenso tempo para poder escolher nossas roupas, nossas profissões e até como deveríamos comportar… ainda muito trabalho pela frente para educar a sociedade a respeitar a nossa liberdade, já podemos realizar grandes feitos e em relação ao vinho a nossa presença é cada dia mais notada…”. Que principais entraves encontraste no início da tua actividade profissional? É aí que entra a tua história com Portugal?
CB – Iniciei no mundo do vinho trabalhando em restaurantes portugueses, ali tive o primeiro contato com o serviço de vinho, mas não me aprofundei no conhecimento, só sabia que gostava, e muito! Quando regressei ao Brasil, percebi que poderia ser um mercado profissional muito promissor. Só que além de não termos a cultura voltada ao vinho, qualquer curso na area é muito caro, então tive que adiar durante muito tempo a minha profissionalização. Pois bem, quando enfim iniciei o curso de sommelier profissional e em simultaneo quis compartilhar o meu aprendizado nas redes sociais, na minha página @brinda_comigo, percebi que nem tudo seriam flores, e fui obrigada a lidar com duras criticas, sobre o meu jeito de falar de vinho, e porque não me levavam a sério. Então deduzi que teria que me assumir sim como “blogueirinha”, “wineinfluencer”, “sommeliere” e continuar com o meu trabalho seguindo a minha intuição. O importante para mim, são as pessoas que me seguem, que querem aprender sobre vinho, que estão começando a se descobrir neste mundo, interagem comigo, compartilham suas experiencias a partir do que viram nas minhas paginas e me dão um feedback super positivo, elas acreditam em mim e isso me motiva! Essa história me levou a Portugal novamente este ano, como finalista do concurso Melhor Sommelier do Alentejo, outra grande coroação da minha ainda curta trajetória no mundo do vinho.
FA – O Prémio Brindô 2019, foi um “arranque” para um percurso que pretendes levar até quando?
CB – Não foi um arranque, vejo como uma coroação de um trabalho que vem sendo feito com muito amor, muita dedicação e muito carinho. Quando comecei a única intenção era difundir a cultura do vinho no Brasil, não fazia ideia até onde poderia me levar, este prémio só veio mostrar que estou no caminho certo, fazendo o que sempre me propus a fazer! Até quando?! Não sei dizer, enquanto ainda houver vinho e o prazer em degusta-lo, talvez!
FA – Realizar uma sabragem é voltar ao tempo dos super heróis?
CB – Olha não sei se descreveria assim, mas é realmente uma sensação muito boa, posso dizer que me sinto como Napoleão Bonaparte ao comemorar uma vitória.
FA – Em Agosto, no dia 29 (também no Instagram) referes o trabalho de um Sommelier (ou escansão em Portugal) não ser valorizado e há inúmeras coisas que passam despercebidas… Em algum momento pensaste desistir?
CB – Não é um assunto confortável de se falar, pois acredito que nunca devemos desistir dos nossos sonhos e eu prefiro inspirar as pessoas a fazer o mesmo, mas sim já pensei em desistir muitas vezes. Sou mulher, jovem, mãe, falando de vinho em redes sociais, tem gente que acha lindo e poderoso, mas tem muitas pessoas que se incomodam com isso e fazem questão de tentar atrapalhar a sua caminhada, ou ainda, se dispõem a falar comentários ofensivos ou a tirar conclusões precipitadas a seu respeito sem ao menos te conhecer! O importante é que em todos os momentos que tinha estes pensamentos Deus me mostrou que não era este o caminho e me apresentou novas possibilidades, assim tenho me mantido de pé. Resiliência!
FA – Agora um exercício de criatividade… Um wine festival é um lugar ideal para…
CB – Celebrar a vida e o vinho, compartilhando muitos brindes!
FA – Os diálogos etílicos são…
CB – Às vezes profundos, às vezes divertidos, por vezes ainda melancólicos mas sempre verdadeiros… Afinal In Vino Veritas.
FA – Quem são as tuas referências no mercado do vinho no Brasil?
CB – Bom há vários nomes, o Gustavo Giacchero, Debora Breginski, Guilherme Balbino, André Ferreira, alguns não muito conhecidos mas que amam o que fazem e trabalham muito sério!
FA – Que sentimentos associas ao som do vinho a cair no copo?
CB – Posso comparar com o som do mar, ele nos tranquiliza e nos dá a sensação de fazer parte de algo maior.
FA – Um outro momento carregado de simbolismo e serenidade acompanha uma frase “A mulher é como a uva. Tantas partes a compõe. Ela não é uma. Ela é um todo!”. Que adjectivos escolherias para um perfil?
CB – De uva ou de uma mulher? (Risos!) Não sei se entendi bem, mas vamos a isso! De pele grossa e de cor reluzente, anunciando a potência dos taninos que precisarão serem apaziguados passando um tempo pelo carvalho. Madura no ponto certo, com o açúcar nas alturas prestes a fermentar e transformar essa potencia em álcool este que por sua vez vai integrar o sumo e fazer com que os elementos se unam em comunhão, sendo seco e elegante, os taninos aveludados e macios com eram em pele, a acidez se faz presente e necessária, provocando a salivação e em cada gole, a boca se preenche e espera por mais, ela é um vinho que não mata a sede, mas vicia!
FA – O “Da Magia a Sedução” Vinho e Erotismo é um evento secreto para mulheres. Podes partilhar um pouco dessa experiência?
CB – Claro, nasceu de uma ideia minha em proporcionar as mulheres um momento leve, descontraído mas que ao mesmo tempo elas possam aprender sobre vinho e sobre experiências, umas das outras! O evento sempre há uma surpresa, para provocar a mulher, para ela se sentir confiante e conhecer a sua própria força. Claro que o vinho faz o trabalho mais dificil, que é quebrar o gelo das participantes e fazerem elas irem aos poucos entrando no clima da brincadeira e interagindo. O erotismo passa pelo sexo e também falamos e debatemos sobre isso, mas antes disso ele passa pela auto – confiança, pela sedução de cada mulher e é este ponto que gostamos de trabalhar, afinal não existe mulher mais sensual que uma que é segura de si, mesmo conhecendo seus defeitos. No fim cada uma sai descobrindo algo sobre si mesma que nem imaginavam. O vinho na medida certa é libertador!
FA – “Ela é tão livre que um dia será presa…”. Como tem sido esta quarentena?
CB – Bom não é fácil, principalmente para alguém hiperativa como eu, sempre cheia de projetos, acostumada a correria. Estamos a ser forçados a parar e olhar para o nosso interior e também a pensar no próximo, nas classes mais prejudicadas que estão sendo afetadas não só pelo COVID19, mas também pela fome e tudo que esta vindo por causa da pandemia! Que seja uma lição aprendida e jamais esquecida! Eu tive imensos projetos parados, tive contrato de trabalho suspenso, mas tenho conseguido aproveitar muito mais minha filha, tenho lido mais, estudado assuntos novos e voltei a praticar yoga e meditação! Em todas as adversidades precisamos procurar pelas oportunidades, é o olhar a metade do copo cheio, ou a metade do copo vazio, acaba sendo uma decisão de cada um.
FA – Agora não tem a ver com vinhos, mas sim com saudades. Que sentimentos te invadem numa fotografia de um café e um pastel de Belém?
CB – Affff, muita nostalgia! Vivi em Potugal a minha junventude, a época sonhadora, em que acreditamos em tudo e em todos, movidos pela paixão normal da idade. Foram muitos aprendizados, muitos amores e muitos momentos inesquecíveis entre um café, um pastel de belém e taças de vinho.
FA – O Porto é um amor que não se explica?
CB – Certamente sim! Sabe tenho muitos amigos portugueses que me dizem até hoje que se eu tivesse morado no Porto eu não teria voltado para o Brasil (Risos!) pode ser mesmo que sim, mas era o destino, quem sabe ainda aconteça muitos reencontros nesta cidade!
FA – Agora vamos incendiar um charuto J Sigmund Freud diz “Smoking is indispensable if one has nothing to kiss” e são das imagens mais bonitas que se podem fazer, a nuvem e o imaginar do aroma numa mulher e um olhar sedutor. Já algum seguidor te pediu em casamento?
CB – Hahaha affff , já sim, mas certamente era brincadeira! Uma mulher com uma taça de vinho e um charuto na mão causa sérios danos na cabeça de um homem, eles podem até se sentir atraídos e curiosos, mas pasme, eles têm medo! Uma mulher que é capaz de fazer o que lhe dá prazer e não se importa com a opnião do mundo não é uma mulher para “casar” para a maioria dos homens. Homem quer segurança, quer quer as pessoas olhem e pensem da sua mulher como é linda, bem educada, bem formada, sabe se portar, uma lady . Não querem um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento, isso é demasiado para a maioria deles.
FA – Um gesto que leva “os cabelos em pé” de um apreciador é ver um “amador” sacudir a cinza. Verdade ou mito que se deve deixar a cinza seguir o seu “rumo”?
CB – Verdade (risos!) até certo ponto, a não ser as pessoas que participam de concurso de cinzas que estão focadas em mante-las, mas que acaba tirando o prazer do momento de apreciar o charuto, para mim no caso, a cinza deve estar lá até que ela mesma decida partir, quando percebemos este momento podemos ajuda-la fazendo um movimento delicado ( e não batendo o charuto e nem sacudindo!) para que ela se liberte! Acontece que as vezes a companhia é tão boa que quando nos damos conta a cinza já partiu, caindo sobre a nossa roupa ou pelo chão rsrs faz parte!
FA – O Espaço Baltoro – que foi palco de encontro com DiogenesPuentes tem umas prateleiras convidativas 🙂 os charutos são um convite a um esquecer das horas?
CB – Sim, a primeira regra do charuto é não ter pressa! Aquele momento é seu, para mim funciona como uma terapia, um momento de reflexão se estou sozinha e um momento de interação produtiva, quando acompanhada. Uma maneira de dar valor ao tempo, o charuto de proporciona esta janela para o nosso interior, falo por mim claro!
FA – Podemos encarnar no espírito de Romeu & Julieta quando o saboreamos com uma pessoa especial?
CB – Ahh não vá por aí amigo que esta história acabou mal (risos!), mas sim tem outro valor se saboreado com uma pessoa especial, acho que podemos recriar a nossa própria versão de Romeu & Julieta!
FA – O “Montecristo” continua a ser um dos charutos mais apreciados no mercado? Que características não dispensas num cubano?
CB – Sim, o Montecristo é umas das grandes referencias de charutos cubanos, não sei te reponder com exatidão às questões mercadológicas, mas segue sendo um dos principais sem dúvida pela qualidade e tradição. Agora falando das características, não só no tabaco cubano mas os de todas as procedências inclusive do Brasil, que produz charutos maravilhosos, o que procuro sobretudo é sabor e aroma, a potência é relativa pois para mim depende do momento que irei degustar e de qual será a harmonização para determinar o quão potente ele deve ser.
FA – Ir a Cuba e não fumar um Cohiba é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa?
CB – Olha eu não me atreveria a visitar Roma e não ver o papa e ir a Cuba e não fumar um Cohiba, é igual a ir ao Porto e não beber nenhum Vinho do Porto, faz parte do cotexto histórico essa harmonização!
FA – Bem, Caliandra, estamos a chegar ao fim da nossa conversa. Que vinho escolhes para a partida?
CB – Ahh foi um enorme prazer, compartilhar um pouquinho da minha história com você, foi emocionante reviver em minha memória os momentos que descrevi aqui. Acho que para nos despedirmos, podemos brindar com um vinho do Porto Vintage, para que a nossa conversa fique eternizado não só pelas palavras ditas mas também pelo paladar com o gosto deste vinho excelente.
FA – FA – “Meu bem, sempre que ouvires um lamento / Crescer, desolador, na voz do vento, sou eu em solidão pensando em ti, chorando todo o tempo que perdi…” termina assim Vinícius – e espero que ele não se importe que eu mude o título… tens saudade de Portugal no Brasil?
CB – A saudade é grande sim, quase 6 anos de muito crescimento e aprendizados, Portugal faz parte de mim e da minha história, serei sempre grata por todas as experiencias que vivi ali e pelos amigos que fiz! Mas algo me diz que essa história ainda não terminou e que terei mais capítulos para escrever em terras Lusas… quem sabe?!
Nasceu em 1986, na cidade da Maia, romântica, perfeccionista, apaixonada pela natureza e naturalmente pelos livros. Formada em Engenharia Eletrotécnica e Marketing, trouxe ao mundo aos trinta e três anos o “Esquece Quem Eu Sou”. Não a quisemos esquecer e foi com sabor a café e vista sobre o mar que se desenrolou a agradável conversa que agora disponibilizamos. Somos vizinhos e praticamente desconhecíamos, mas há algo que nos une: a criação do zero de uma personagem Rita e de um Ian que prometem fazer sonhar. É apaixonada pela cidade do Porto, fã de Miguel Araújo e quer virar a página na oferta literária “com bolinha vermelha” em Portugal. Sem mais demora, para o Sílabas & Silêncio a primeira conversa de 2020!
(Francisco Azevedo/FA) – Catarina, obrigado teres aceite esta conversa. Se o dia oito de fevereiro fosse um perfume, que aroma teria?
Catarina Gomes (CG) – Frésias.
FA – Deste vida à Rita e ao Ian. Como começou esta viagem literária?
CG – Esta viagem começou em outubro de 2017, num dia comum de férias de Outono em que não havia nada de interessante para fazer. Tinha acabado de ler uma série de romances eróticos ou New Adult, já que eram todos traduzidos, e fui à procura do mesmo estilo escrito em português. Não encontrei nada e não percebia porque é que ninguém escrevia nesse estilo. Então, pus-me a folhear os livros que tinha lido, pensando: “isto são cerca de 300 páginas, não é assim tanto… Ok, eu sou capaz”. Foi assim que nasceu o meu primeiro livro, da vontade de ler mais, e criei esta história para mim, para eu ler. E da vontade de representar um género literário que, em Portugal, é totalmente dominado por autoras americanas e do Reino Unido. Já não escrevia desde a adolescência, a não ser conteúdos científicos!
FA – Recentemente, no Facebook partilhaste um poema – um intemporal de Fernando Pessoa. O amor, para ti é “fogo que arde sem se ver…”?
CG – Quem me dera conseguir pegar nesse poema e reescrevê-lo, sob a minha interpretação. É algo que arde sem se ver, sim, mas não um fogo… é algo mais lento, mais ponderado.
FA – Barbara Walter diz que uma boa pergunta é aquela que a nossa mãe nos ensinou a nunca fazer. Que boa pergunta fizeste hoje? Ou nos últimos dias? Tens sempre resposta para uma pergunta que não gostasses que te fizessem?
CG – Na realidade, não há perguntas desconfortáveis para mim. Além disso, sou demasiado impulsiva, para ter uma resposta treinada.
FA – Determinação e ambição são características da Rita. Em que momentos te revês na personagem principal?
CG – Em todos! Mas, enquanto a Rita é determinada, eu diria que posso ser um pouco “obstinada”, para meu próprio mal.
FA – A Rua de Sá da Bandeira e a “Dama de Copas” têm mais valor para ti desde o dia oito?
CG – Sem dúvida! Tenho um carinho enorme pela Dama de Copas, pelas pessoas que lá trabalham e pela Inês Basek, Margarida Furst e João Coimbra. O dia 8, em Sá da Bandeira (Porto) e o dia 14, em Santa Justa (Lisboa), foram apenas mais um passo que demos juntos, numa jornada onde sinto que eles estão sempre ao meu lado.
FA – As viagens são cruciais para depois no sossego do lar criar uma personagem e viajar por outros mundos?
CG – “Esquece Quem Eu Sou”, baseia-se muito nas minhas vivências na cidade do Porto, aos dias de hoje. Mas, sim, novos lugares ajudam imenso a criar novas personagens e interação entre elas, nesses mesmos locais.
FA – Um romance que “… possui todos os ingredientes para nos envolver…”? Que traços da Rita transportas de forma inconsciente para o teu dia-a-dia?
CG – A sua determinação e perseverança, indubitavelmente. E, aproveito a pergunta para abordar outro tema. A Rita é muito segura, não tem medo de perseguir os seus sonhos, não tem vergonha de dizer o que sente, nem de si mesma. De certa forma, julgo que a maioria dos romances ainda apontam uma mulher insegura e dependente do amor de um homem ou de outra mulher para se afirmar. A Rita não é nada disso! E, subtilmente, quis passar, precisamente, essa mensagem. Todas as mulheres têm direito ao amor, independentemente do seu aspecto físico, da sua profissão, das suas ambições, etc… Acho que é esse o ingrediente que nos envolve. A mulher moderna irá rever-se na Rita; a mulher “antiquada”, quererá ser como ela.
FA – Que livro “com bolinha vermelha” mexeu mais contigo?
CG – Curiosamente, um que tem “bolinha vermelha” literal na capa, mas que não chega aos calcanhares de vários que li que não têm essa marca visível, mas que mereciam. Chama-se “Confia em mim”, de Jennifer Armentrout, uma autora que, na minha opinião, escreve sempre bem, independentemente do estilo.
FA – Em “Todo o azul do mar” há uma passagem que diz “… Foi assim, como ver o mar. A primeira vez que os meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção de me apaixonar. Mera distração e já era tempo de se gostar…”. É indissociável o mar do amor?
CG – Esse poema é lindo (olhinhos com corações). Apesar de gostar de alguma poesia, não sou nada poética, pelo contrário, sou muito literal. Portanto, não vejo qualquer relação entre ambos. As pessoas adoram exprimir o amor sob a forma de coisas belas, como o mar, o céu, o universo… sempre em escalas megalómanas! Apesar de adorar a natureza, prefiro descrevê-los através de bens terrenos e vulgares, como “gelatina”, “meias quentes”.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo. Quantos livros tens em casa?
CG – Espera, vou contar! Impressos, 89. O meu problema é não ter uma estante, tenho-os espalhados pela casa.
FA – Passando agora um bocadinho pela arte & ofício da escrita. Preferes o silêncio ou a mesma música?
CG – Silêncio!
FA – Assusta uma página em branco?
CG – Nada! Quer apenas dizer que é hora de começar a escrever!
FA – Criar uma obra do zero nunca é fácil. Que processo não prescindes / levaste em conta para o “Esquece Quem Eu Sou”?
CG – Vou batizar, agora mesmo, um processo de escrita. Chama-se o “processo do prazer puro” de viver noutra casa, noutra cidade, com outras pessoas, frequentar outros lugares.
FA – Foram quantos meses de escrita?
CG – Estás-me a envergonhar, Francisco! Escrita, propriamente dita, e construção da história, cerca de 15 dias com paragem para comer, banho e pouquíssimas horas de sono. Entrei na história de uma maneira que ainda hoje não sei como fui capaz! Depois, precisei de cerca de 1 ano, para limar tudo e dar um fim à história.
FA – A Rita, o Ian, o amor, as incertezas, os cenários… Quanto tempo povoaram a tua cabeça? Já depois do ponto final?
CG – Ainda povoam! 🙂 Adoro aquelas duas personagens, afinal vivi com elas mais de um ano e foram as primeiras.
FA – Não sais de casa sem um livro. Que livro estás a ler? Recomendas?
CG – Estou a ler “O Poder Surpreendente das Ideias Absurdas” e, sim, recomendo, para quem tem receio de sair da caixa, de vez em quando.
FA – As booktubers são muito populares no mercado brasileiro, mas aqui em Portugal há poucas. Quem segues?
CG – Honestamente, nenhuma, ainda. Só há poucas semanas, comecei a dar os primeiros passos no Instagram e conheci algumas bookstagrammers. Penso que ainda temos muito para crescer nesse campo, e, a respeito disso, talvez tenha novidades em breve. 🙂
FA – Se este livro (bonito design da capa!) tivesse uma banda sonora, que dez temas incluirias?
CG – Dez, Francisco!?
– Who are You? – SVRCINA
– Close – Nick Jonas ft. Tove Lo
– Elegy for the arctic – Ludovico Einaudi
– How would you feel – Ed Sheeran
– Antes delas dizer que sim – Bárbara Tinoco
– Tonto de ti – Miguel Araújo
– Hurt for me – SYML
– You – Two Feet
– Fleurie – Breathe
2 Notas
CG – Tenho de aproveitar para dar os parabéns e registar um “Obrigada” ao Gonçalo Cardal Pais, da Emporium Editora, que foi quem desenhou a capa. Não sei o que se passou na cabeça dele, mas é a janela para a história do livro, sem sombra de dúvida, e é a minha cara! Segunda nota: Miguel Araújo, porque o considero um músico e poeta brilhante e porque é da nossa cidade, e que bem que ele a descreve!
FA – Referes no passado dia vinte e um de Fevereiro que “… a melhor parte de escrever um livro é saber que fiz alguém perder a noção do tempo…”. Que sensações um livro precisa de provocar em ti?
CG – Sensação de leveza e despreocupação, sensação de que não existe mais nada à minha volta. Sou só eu e aquelas personagens, num lugar qualquer que estou a visitar pela primeira vez.
FA – Um sonho que gostarias de ver realizado ainda este ano de 2020?
CG – Prefiro falar de objetivos. E, por acaso, prende-se com livros. Espero ver o meu segundo romance terminado, revisto, aprovado pelo meu “grupo privado de pré avaliadoras” e, se correr bem, editado. (Para voltar à Dama de Copas em Fevereiro de 2021).
Instituto Português de Oncologia, Porto
1 de Outubro de 2019
” – Tenho cancro!?” – não é bem uma questão! É antes um choque, um baque demasiado indigesto para se assimilar numa consulta num gabinete (quase todos eles em tons branco esperança mas despidos de familiaridade). Muitas destas mulheres, homens chegam à consulta depois de uma viagem de transportes públicos, de trânsito infernal e o mundo desaba. O cancro chega a muitas destas pessoas a dias do aniversário, do Natal, da festa de formatura de um filho. Ali, no edifício principal do Instituto, mesmo em frente à Clínica da Mama encontram-se imagens que prometem não deixar ficar ninguém indiferente.
“Sweet October – Reflexões de empatia sobre as marcas de uma batalha” é da autoria e responsabilidade de Ana Bee, que entre sorrisos, abraços e lágrimas recebe amigos, familiares e perfeitos desconhecidos que fizeram questão de marcar presença. A exposição – em que todos/as posaram sem reserva ou preconceito – estará patente até ao próximo dia 31 no átrio principal da unidade hospitalar. Todos os modelos são reais! Não há makeup, sets de passadeira vermelha! O negro no fundo, o rosto esbranquiçado e o olhar inundado de sentimentos: da esperança ao medo.
Paula, Lucinda, Ana, Ivete são todos nomes verídicos que lutam com todas as forças para não fazerem parte da estatística. Agostinho também esteve presente, e sorridente.
No meio de tantas consultas, exames, radiações, sessões de quimioterapia e cirurgia, viver com menos uma parte do corpo era o “menor” dos problemas. Ivete chega sorridente, tal como na sessão, posa para o Pedro com uma amiga junto ao seu retrato. A empatia tem nomes, rostos, signos e feitios. Um projecto que engloba fotografia, palavras e emoções. Nomes que de certo todos conhecem da cultura quiseram “… pintar a minha vida de todas as cores…” deixaram o seu contributo e cada rosto tinha um poema, um pedaço de canção, uma prosa definida.
Ali, contam-se quinze histórias diferentes, quinze rugas, quinze cicatrizes, quinze idades. No aglomerado de emoções cruzam-se batas, numa mesa junto ao vidro flores brancas e marca-livros com uma frase de Albert Camus que leva toda e qualquer alma a viajar para lugares melhores, jardins encantados, fins de tarde ensolarados na companhia da família… “… e no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim um verão invencível…”.
Maria da Conceição posa junto ao seu retrato, o diagnóstico chegou no mês do natal de 2016, não esconde a emoção e abraça uma amiga jovem de cabelos loiros soltos pelas costas. Não se ensaiam grandes discursos, as palavras todas vão de encontro aos afetos, aos sorrisos, aos olhares de esperança e de que tudo ficará bem! Mas nem sempre fica…
Para Ana Lopes, a poesia de Suzy Silva assenta na perfeição das emoções que viveu:
Tenho lágrimas que não choro
Por serem sonhos guardados
Mas tenho a vida que vivo
Tenho na alma um eterno fado
Ali, em poucos metros quadrados cruzam-se histórias de vida, uma delas com três episódios de cancro em três fases distintas da vida: 2003, 2007 e 2016.
A manhã do primeiro dia de Outubro ficará para sempre eternizada numa imagem, uma imagem carregada de sorrisos e esperança. Aos que partiram resta a saudade e as memórias.
Tudo o que é série passa na Netflix, embora o “tudo” tenha qualidade para colar o telespectador ao ecrã. O fim-de-semana de nove e dez de Fevereiro promete cravar na memória alguns momentos e elementos marcantes da série escrita pelos irmãos Duffer – Matt e Ross. A pacata localidade de Hawkins no estado de Indiana (EUA) acorda sobressaltada pelo desaparecimento misterioso de Will Byers – 12 anos. A mãe – Joyce – torna-se frenética para o tentar encontrar, enquanto que o chefe da polícia Jim Hooper começa a investigar e os amigos não ficam de fora: Mike, Dustin e Lucas encontram uma menina especial – psicocinética – que sabe do seu paradeiro. À medida que descobrem a verdade, uma agência governamental tenta encobri-los, enquanto uma força mais insidiosa espreita.
Assim começa a história em 2016…
O Porto teve a honra e o privilégio de receber no emblemático espaço Hard Club junto ao Rio Douro – cenários e itens que podem ser testados pelos visitantes. A visita deu-se da parte da manhã (sexta-feira) reservada até às 14:00 à comunicação social. Fomos muito bem recebidos pela responsável de Portugal da empresa de comunicação MdC – Alexandra Dias – convidando-nos a desfrutar de uma experiência em Realidade Virtual, assustador mas muito muito próximo da realidade.
A primeira temporada foi apresentada / lançada no dia 15 de Julho de 2016, a segunda a 27 de Outubro de 2017 e os fãs agora têm de aguardar até 4 de Julho de 2019 para ver o que acontece nos oito episódios. A segunda temporada mostra o momento em que Will regressa a casa e à companhia dos seus amigos… mas ainda se encontra muito ligado ao mundo invertido. Mesmo depois de tanto tempo, a cidade não está completamente a salvo e não tardará muito até que fragmentos do Mundo Invertido façam uma “visita”.
Como é possível ver na imagem feita no Hard Club, os visitantes (a partir de sexta-feira até amanhã, domingo) têm a oportunidade de ver de perto e experimentar o skate e as bicicletas.
“Stranger Things” foi filmada em Jackson, no estado da Geórgia.
Para quem conhece a série e teve a oportunidade de experimentar o jogo, recordar-se-á facilmente deste cenário, o sofá e as luzes. De facto, para os mais aficionados e eternos sonhadores esta experiência promete não deixar ninguém indiferente. Só faltou mesmo a cereja no topo do bolo: a presença de um ou outro protagonista.
O facto de ter sido uma manhã reservada à comunicação social, foi possível passear e fotografar com outros cuidados. A equipa presente não poupava a esforços e sempre se mostrou disponível para esclarecer dúvidas ou curiosidades sobre a série.
A faixa que se encontra acima era um dos spots para umas fotografias, e os visitantes eram convidados a partilhar a sua experiência neste “Stranger Things” com um hashtag.
O que não podia faltar era a porta do Will e claro a entrada do baile de 84.
A porta de Will…
Foi em “Hawkins Middle Snow Ball” que se viveu um dos momentos mais amorosos de toda a série: a dança no final do baile.
Há recantos em que já te encontro,
Há becos em que me perco
E quando a memória se esquecer
Há imagens ao entardecer
Ao teu cais me atraco
Seguro estou que o meu barco
Se mantenha intacto por mais uma noite
Vamos zarpar amanhã?
Podia ser uma aguarela
Ao fim e ao cabo
Ela era minha
E eu, dela
Contacte-nos já e peça o seu orçamento sem compromisso.
Telf.: +351 916 894 653
Francisco Azevedo: francisco.azevedo@focalpoint.pt
Pedro Fonseca: pedro.fonseca@focalpoint.pt