Nunca senti peso e nenhum tipo de pressão por causa do meu apelido. Mas sabes o que senti e ainda sinto todos os dias? Um orgulho imenso. Isto porque o meu tio, o meu avô e o meu pai sempre me acarinharam bastante e nunca me fizeram sentir que tinha algo a provar. Se eu conseguir fazer um vigésimo do que eles fizeram no desporto para mim é motivo de orgulho. Cresci a ouvir mil e uma vezes as histórias do meu tio e do meu avô que me faziam sentir como se estivesse a ver o meu avô a jogar ou a liderar como treinador a equipa do FCP ao tricampeonato ou a tornar o Vitor Hugo no melhor de sempre (ele tinha um carinho enorme pelo Vitor, como se fosse mais um filho para ele). Ainda tive a sorte de ver o meu pai jogar e de ouvir também as histórias de alguns momentos que o marcaram, e o mais bonito deles foi a época de campeão nacional pela AAE. Dá para sentir todo a carinho e amizade que ele tinha por essa equipa. Por isso Francisco, pressão nunca, orgulho constante!
Sempre. A primeira vez que entrei num pavilhão foi com o meu avô na AAE. Ensinou-me a andar de patins quase antes de saber andar. Podia ter sido jogadora de hóquei, mas a minha mãe trocou as ideias ao meu avô. Aos sete anos o meu pai incentivou-me a começar a jogar voleibol e a partir daí nunca mais larguei o desporto. Acho que já nem consigo imaginar como teria sido a minha vida sem desporto, sem os treinos ao final do dia, sem os jogos e viagens de autocarro nos fins de semana, sem as emoções do “balneário”, sem a equipa.
Acho que tentei ser aplicada em todas disciplinas. Não percebo porquê, mas português era a disciplina que menos gostava. Sempre fui apaixonada pela matemática e pela física. Adorava e adoro números. Penso que este carinho pelos números ditou em parte a minha escolha pelo curso de engenharia mecânica na FEUP.
Francisco, não sei se sabes, ou pelo menos já ouviste dizer, o balneário de uma equipa feminina é um furacão de emoções (acho que todas as minhas antigas colegas de equipa vão concordar com isto!). Quando no início de uma época alguém disser que vai ser tudo tranquilo, ignora, é uma grande mentira! Nos últimos 5/6 anos tive a oportunidade de ser capitã de equipa e tive a responsabilidade de tentar ser um exemplo para as minhas colegas. Numa equipa todas são diferentes, cada uma tem mil problemas e encara-os de forma completamente diferente. O meu grande desafio foi saber lidar com todas elas e de maneiras totalmente diferentes. Fez-me crescer bastante e fez-me ser uma pessoa mais sensata, tranquila e desenrascada. O saber lidar com problemas diferentes e escolhas difíceis é o meu dia a dia profissional como engenheira de produção. Toda a gestão que tinha de fazer no balneário é semelhante aos meus desafios profissionais diários.
Voltando à primeira pergunta, senti orgulho! Eu sei que a maioria das pessoas conheceu o meu avô como um grande Homem e atleta. Eu tive a oportunidade de conhecer uma outra versão dele. O meu Vô. A pessoa que mais gostava de mim neste mundo. A pessoa que fazia tudo por mim. A pessoa que só me queria ver feliz. Devo ter sido das únicas pessoas com quem ele nunca gritou dentro do ringue de hóquei da AAE. Eu tive acesso a um Vladimiro Brandão que mais ninguém conheceu, acho que nem mesmo a minha mãe nem o meu tio. Por isso, na maioria das vezes, eu olhava para ele apenas como o meu avô e não como um dos maiores atletas da nossa cidade. Lembro-me bem dessa homenagem na Nave. Foi um dos momentos que me fez cair a ficha, fez-me realmente perceber a magnitude dele. Milhares de pessoas de pé a bater palmas ao meu avô. Arrepio-me só de me lembrar!
Até me fazes sentir velha (sorrisos!). Calma que ainda tenho mais dois anos e meio até entrar nos 30! Gostava de poder ter viajado muito, mas muito mais. Viajar foi uma das coisas que ainda não tive a possibilidade de fazer tanto como gostaria. Conhecer o mundo, diferentes culturas, diferentes paisagens. Abdiquei muitas vezes de viajar em prol do voleibol, mas, em princípio, esta vai ser a minha última época por isso já não tenho desculpa para não marcar viagens. Tenho cinco viagens que gostava de fazer nos próximos anos: Rio de Janeiro, Ibiza (com as amigas), Nova Iorque, percorrer parte da Indonésia e um mochilão na América Latina. Agora só falta marcar.
Acho que na altura ainda não tínhamos bem noção do impacto que esta pandemia iria ter. Para mim foi difícil mudar a rotina a que estava habituada há quase 20 anos – treinar e dividir quase todos os dias o balneário com as minhas “babes”. Nas primeiras semanas ainda acreditávamos que íamos voltar e acabar época. Quando soube que não íamos poder jogar foi muito triste. Ainda por cima íamos começar a fase dos primeiros e lutar pela subida de divisão. Todas queríamos realizar este sonho de fazer o espinho subir à primeira divisão. Fiquei desolada por não o poder fazer com aquele e grupo, todas ficámos.
Para mim não foi bem uma transição. Não foi uma troca de Espinho pela Académica. Não saí do Espinho porque ia jogar para a Académica. Já não estava a conseguir conciliar a minha vida desportiva com os meus compromissos profissionais. Estava a começar a ficar completamente desgastada, física e psicologicamente. Andava sempre a correr, muitas vezes chegava atrasada e já nem sequer conseguia ir a todos os treinos. Mas eu queria sempre estar presente para o grupo, para as minhas colegas. Foi muito difícil tomar a decisão e dizer que não ia conseguir fazer parte do grupo na época seguinte. Mas cheguei a um ponto que tive de pensar um bocadinho mais em mim. Sabia que não ia conseguir assumir um compromisso tão grande que iria exigir de mim mais do que iria conseguir dar à equipa, às minhas colegas, ao meu clube. Estava decidida a abrandar e a ter mais tempo para mim.
A Académica surgiu numa altura em que ainda estava a sentir bastante a morte do meu avô e senti que de alguma forma estava a ter a oportunidade de prestar a última homenagem. Vestir a camisola do meu avô no seu clube de coração! O projeto da Académica não implicava um compromisso tão grande como o do Espinho e ia acabar por conseguir ter mais tempo para organizar a minha como tinha idealizado quando decidi deixar de fazer parte da equipa do Espinho.
Sinto-o sempre quando entro no pavilhão da académica. Eles colocaram uma fotografia dele no pavilhão e a primeira coisa que faço agora quando lá entro é olhar para ele. Passei tanto tempo com ele naquele pavilhão. Era o nosso sítio. Desde pequenina lá ia eu com o meu avô ver todos os jogos de hóquei. Ele adorava ser treinador de bancada (sorrisos!), sempre a dar indicações. E o melhor é que os jogadores olhavam para ele e ouviam o que dizia.
É um orgulho ver o nome dele na escola de patinagem. Também fiz parte da escola e todos os fins de semana estava lá com ele. Tive o privilégio de ter o melhor treinador só para mim. E ainda me lembro que durante a semana, se ele tivesse a oportunidade e me conseguisse convencer, lá íamos nós para académica andar de patins os dois.
É sempre a correr. Acordar em cima da hora, pequeno almoço a correr e seguir para a empresa. Sou engenheira de produção e adoro o que faço. Adrenalina máxima todos os dias. No fim do dia, se não fosse a pandemia, o normal seria ir direta da empresa para o pavilhão nos dias de treino ou beber um copo com amigos numa esplanada qualquer. Tendo em conta esta situação tento fazer pelo menos parte física em casa. No fim de semana tento abrandar um bocadinho o ritmo e focar-me nos acabamentos do meu apartamento (orgulho máximo! Finalmente estou a preparar-me para abandonar a casa dos pais (sorrisos!). Ah, e uma das coisas que não abdico ao fim de semana é de ir até lá baixo ver o mar.
Agora até me fizeste pensar. Mas não, não tenho nenhum amuleto. Não sou supersticiosa. Acredito muito mais no esforço e dedicação do que na sorte. O mais próximo de um amuleto para mim só se for o elástico do cabelo que uso para treinar. Normalmente uso sempre o mesmo durante a época.
Que memória boa de relembrar. Essa brincadeira começou depois de um jogo contra o Sporting na Nave em que ganhamos 3-1 e eu fiz muitos pontos de block out. Sei bem que não sou muito alta para jogadora de voleibol e também não salto tanto como devia (tristeza máxima). O meu pai goza comigo. Diz que não herdei os genes dele que saltava mais de um metro. Não sendo muito alta e saltando pouco tinha de me safar de alguma forma mais técnica.
Tenho três músicas que estou sempre a ouvir no carro. “Brillo” da Rosalia com o J. Balvin, “Uma Lua” dos Melim e “Watermelon Sugar” do Harry Styles. Sou menina para ouvir estas músicas em loop o dia todo.
Todos os livros do Harry Potter. Foi sem dúvida a saga que marcou a minha infância e adolescência. Recentemente voltei a ler todos os livros outra vez e na época de Natal faço sempre maratona dos filmes. Sou completamente viciada.
O meu avô adorava o desporto e passava horas a contar-me as mil histórias da vida desportiva dele. Uma das coisas que dava sempre para perceber era que ele gostava de ganhar. No entanto, apesar de ver o brilho nos olhos dele quando falava das vitórias, sempre me disse que nunca devemos achar que somos melhores do que ninguém, nem deixar que achem que somos inferiores. O meu avô tinha um feitio filho da mãe (a maioria dos amigos dele ou as pessoas que tiveram algum contacto com ele devem achar o mesmo – sorrisos!) e não deixava que ninguém o deitasse abaixo, pelo menos sem dar luta. Para ele, a única forma de provar alguma coisa tinha de ser dentro do campo com esforço, dedicação, atitude e, acima de tudo, muito amor à camisola. Isto era o que ele me tentava incutir sempre que relembrava alguma história do passado.
Francisco, o Espinho vai ser sempre o me clube de coração. Foi o clube do meu tio Valter (irmão do meu avô) e da minha tia Clara. Foi o clube onde o meu avô e o meu pai jogaram. Vai ser para sempre o clube do Toninho e do Sr. Abílio. É clube dos Desnorteados (um obrigado especial ao Victor Gomes que sempre foi incansável a puxar por nós em todos os jogos). O clube dos grandes jogos na Bombonera. O clube que me viu crescer e que ajudou a moldar a pessoa que sou hoje. O clube que me deu alguns dos melhores momentos da minha vida. O clube que me deu amigas e amigos para a vida. Ri e chorei muito de tigre ao peito. Vai ser para sempre o meu clube. O meu Espinhinho.
Pela Académica tenho um carinho imenso. Foi sempre o clube de coração do meu avô, da minha mãe e do meu tio Valter (filho do meu avô). É o clube onde tenho algumas das memórias mais bonitas com o meu avô. Nunca vou esquecer os dias que passámos no pavilhão a andar de patins os dois, a ver jogos de hóquei, de voleibol, de hóquei em campo. E quando ele me levava aos trampolins? Era felicidade pura mim!
Numa final entre Espinho e Académica, independentemente do emblema na camisola, de certeza que me ia lembrar do que o meu avô me disse uma vez…”as finais são para se ganhar”.
Sinceramente, em relação à terceira divisão, já não espero nada. Não sei se vamos voltar. O que eu quero mesmo é ver o Espinho subir à primeira divisão. Quero ver as minhas amigas fazerem o que queríamos ter feito antes desta pandemia acabar com o nosso sonho na época passada. Posso já não fazer parte da equipa, mas vou estar lá a festejar com elas de certeza.
Acho que todos em algum momento da nossa vida pensamos que se tivéssemos feito as coisas de outra forma ou feito outras escolhas, de alguma forma seriamos mais felizes. Mas sabes o que acho? Se mudasse alguma coisa no meu caminho, possivelmente não seria a pessoa que sou hoje. Acredito muito que todas as decisões que tomamos e todos os caminhos que escolhemos, certos ou errados, moldam a nossa personalidade. O truque é saber lidar e aprender com as consequências das nossas ações e decisões. Acho que muitas das vezes mais vale arriscar do que ficar com a dúvida para sempre na cabeça. Podia ter o escolhido o hóquei em vez do voleibol? Podia. Mas neste momento não teria os melhores amigos que alguma vez podia imaginar. Podia ter tirado o curso na força aérea? Podia. Mas talvez não me sentisse tão realizada na minha vida profissional. Podia nunca ter jogado voleibol e nunca ter tido 12 entorses nos pés? Podia. Mas nunca iria saber todo o esforço e dedicação que a recuperação de uma lesão envolve. Nunca iria saber o que é fazer parte de uma equipa. Podia ficar a trabalhar para sempre na mesma empresa e garantir a estabilidade? Podia. Mas onde está a adrenalina? Onde está o desafio? Onde está a vontade de evoluir? Onde está a vontade de crescer e de fazer parte de outros ambientes profissionais? Por isso Francisco, a resposta é não. Não mudaria nada no meu caminho porque de certeza que não seria a mesma Rita Brandão que sou hoje e porque neste momento, independentemente se escolhi o caminho certo ou errado ou se tomei boas ou más decisões, sou feliz. Isto é o mais importante.
Humildade. Tenha perfeita noção que para conseguirmos alguma coisa é preciso esforço e dedicação. Não sou melhor do que ninguém. Nada cai do céu.
Esta é fácil. COM ananás!! (Não sejam esquisitos! Provem antes de dizer que não gostam (sorrisos!)
Bandida para os sunsets e gin para as noites de festa.
Mágico.
Budapeste.
Viajar.
Da minha vida académica, das equipas de voleibol que tive oportunidade de fazer parte nos últimos 20 anos e de todo o carinho da minha família e amigos.
Obrigada por me terem dado a oportunidade de vos dar a conhecer um bocadinho de mim e um obrigado especial ao Francisco por todo o carinho que sempre tiveste pelo meu avô.
De coração cheio,
Brandão
O que chama a atenção do público num vídeo ou num áudio é a colocação de voz, a postura, a naturalidade, o sorriso. E algumas vezes – intromissões de felinos – depois uma montanha de livros e a capacidade de nos fazer viajar pelas palavras de autores consagrados e outros pura (e simplesmente) desconhecidos. Já dei por mim a comprar um livro sugerido pela Roberta, e não me arrependi. Contactá-la foi mais do que um objectivo, não só por falarmos a mesma língua mas por partilharmos paixões inexplicáveis, como o Porto.
Roberta Frontini nasceu no sul de Itália, no paraíso da pasta, do risotto, da doce Julieta. Com formação na área da psicologia e investigadora na área da Saúde, Roberta lançou há quase uma década o projecto FLAMES_MR com uma amiga. Baterista nos tempos em que não se deleita por palavras de Agatha Christie ou Tânia Ganho (de quem leu o último “Apneia” e adorou) e é uma adepta dos nasceres do dia no Alentejo, por onde passou este verão de 2020. Por vezes viaja ao Porto para matar saudades (ah! sim, e levar mais um livro para a sua vasta biblioteca).
FA – Roberta, o que fica de um livro? A primeira frase, o primeiro acontecimento marcante ou a última palavra?
RF – Cada livro é único. Não saberia responder. Há livros onde o que me toca é a escrita. Noutros a história… depende muito.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo, ou foi uma paixão que surgiu com o avançar da juventude?
RF – Desde cedo. Provavelmente a culpa é da minha mãe que sempre leu muito. Por outro lado, também me lembro do meu pai me ler (e inventar) algumas histórias. Tenho vídeos meus onde ainda não falava, com livros na mão (virados de pernas para o ar!!) e eu a ler (a inventar sons na verdade) em voz alta.
FA – Em algumas fases dos livros (fruto da tua formação) defines um perfil mais pormenorizado da personagem que o autor?
RF – Sim… acho que sim. Não é bem um perfil, mas quando aparece uma personagem com uma perturbação mental é comum eu escrever alguns dos critérios de diagnóstico de lado. Mesmo que a personagem não tenha um diagnóstico definido eu costumo sublinhar e colocar de lado o nome da possível perturbação /ou o sintoma.
FA – De todos os autores que admiras, a qual gostarias de fazer duas perguntas difíceis?
RF – Talvez ao Charles Dickens e à Agatha Christie, mas já não o poderei fazer nesta vida (sorrisos!)
FA – É mais difícil ler um livro complexo ou explicar a paixão pelo Porto?
RF – Boa questão (sorrisos!), não sei bem porque a cidade do Porto mexe tanto comigo. Acho-a linda, e as pessoas são maravilhosas!
FA – Se fizermos uma passagem (atrás no tempo) que Roberta vês numa moldura da cómoda da avó?
RF – Fotos de uma menina sempre sorridente mas com um olhar tímido…
FA – Com raízes em Itália, que sensações experimentas numa cidade como Verona?
RF – Eu nasci no sul da Itália, por isso todas as minhas viagens ao norte (Verona, Milão, Brescia, Bergamo, etc.) me deixaram um pouco… insatisfeita (tirando Veneza). Por exemplo, em termos de comida, fiquei um pouco desgostosa. Mas Verona foi uma agradável surpresa até…
FA – Leva-nos agora ao filme “Letters to Juliet”. Partirias numa aventura como a doce Sophia?
RF – Olha, esta pergunta lembrou-me a minha ida a Verona. Na altura em que fui a Verona foi inserido numa viagem que fiz com o meu pai ao norte de Itália. Não estava estipulado irmos a Verona. No avião meti um filme ao acaso e calhou o “Letters to Juliet”. Passado uns dias os amigos onde estávamos hospedes perguntaram se queríamos ir a Verona e eu disse logo que sim. Foi muito interessante estar na cidade depois de ter visto o filme. Mas respondendo à pergunta… claro que sim!
FA – Numa viagem por Itália, que obras te acompanhariam?
RF – Sou uma exagerada, quando vou de viagem levo imensos livros. Tenho o terror de ficar sem nada para ler. Mas quando vou a Itália geralmente não levo nenhum e vou comprando. Na minha última ida lá descobri os livros de Andrea Camilleri que, na minha opinião, devem ser lidos em italiano. O dialeto siciliano, a cultura, as comidas, e a atmosfera de mistério que os livros impregnam são aspetos maravilhosos. Um outro livro que acho adequado é “Pictures from Italy” de Charles Dickens que nada mais é do que um diário das suas viagens por algumas das cidades italianas mais importantes.
FA – O primeiro livro é como o primeiro amor? Não se esquece?
RF – Não… o primeiro livro não se esquece, sem dúvida! Lembro-me como se fosse hoje das sensações que senti com o meu primeiro livro! O primeiro amor já esqueci (sorrisos!).
FA – Perdes-te por uma série da Netflix ou trocavas facilmente por um conjunto de livros de autores que admiras?
RF – Perco, mas troco facilmente! Claro!
FA – No YouTube (entre as montanhas de livros apresentados) mostraste uma Graphic Novel de Anne Frank, fazendo uma viagem no tempo em que leste pela primeira vez. Há livros que voltarias a pegar?
RF – Sim… há imensos livro que eu gostaria imenso de reler. No entanto: “So many books, so little time”. Posto isto, devo dizer que estou a reler alguns livros da Agatha Christie e do Charles Dickens, e releio todos os anos “O Principezinho” (ultimamente tenho relido em outras línguas para variar um bocadinho).
FA – Aguardar por um livro e depois achar a sinopse bem mais interessante que o conteúdo, que sentimentos te invadem?
RF – Pois… publicidade enganosa… fico um pouco enraivecida, e é por isso que tento não as ler.
FA – Deste alguma importância à “polémica” de J.K. Rowling no que se refere à Livraria Lello e que afinal de contas não conhecia e nunca lá tinha estado?
RF – Não. Acho que há coisas bem mais importantes para se discutir nos tempos que correm.
FA – Numa maratona literária, o que é mais incomodativo? As mensagens no WhatsApp ou uma dor de cabeça?
RF – (sorrisos!) as perguntas incessantes que algumas pessoas fazem e que estão explicitamente explicadas nas regras. Bastava lerem as regras.
FA – Do projecto de entrevistas “O teu FLAMES num ano 2019” que conversas foram mais fáceis de conseguir?
RF – Adoro o projeto “O teu FLAMES num ano…”. Espero voltar a fazer em 2020. Não consigo nomear uma pessoa, mas gostaria de dizer que às vezes os autores/personalidades que achamos mais “inacessíveis” são os mais “fáceis”.
FA – A barreira de um milhão de visitas teve um sabor especial?
RF – Confesso que não porque eu sou extremamente despistada com estas coisas.
FA – Que principais entraves encontraram no início do projecto Flames?
RF – Chegar a mais pessoas. No início as redes sociais estavam a começar… por isso aumentar o número de seguidores era difícil. Lembro-me que passamos muito tempo com 6 seguidores…
FA – Na rúbrica “Lembram-se?” conseguimos ver que nem sempre a fama é uma coisa boa. Que história marcou mais?
RF – Tenho de repescar essa rúbrica. É das minhas rúbricas favoritas. Faz-me procurar e pesquisar coisas e faz-me ficar nostálgica. Acho que a história que me marcou mais foi a do “menino da Kinder”.
FA – Que voz convidariam para uma leitura encenada de poesia ou um conto?
RF – Uma pessoa que já faleceu… a minha voz favorita no mundo inteiro: Alan Rickman.
FA – Da esfera dos blogues, quais marcaram? E dos que fecharam, alguns disseste em silêncio “ainda bem…”?
RF – Nunca senti “felicidade” por algum blogue ter fechado… Na esfera dos blogues houve uma altura em que havia muita competitividade. Mas depois quando comecei a integrar-me na comunidade booktuber tive o sentimento contrário e acabei por esquecer um pouco isso. Os booktubers são muito mais simpáticos (desculpem a honestidade). Um blogue de que gosto particularmente é o “Livros e Papel” da Inês. Gosto muito dela.
FA – O silêncio para a leitura ou uma seleção musical distinta?
RF – Silêncio! Gosto demasiado de música e isso distrai-me.
FA – “Se eu pudesse…” – o que te vem primeiro à cabeça?
RF – Passava a vida a ler (muito óbvio, mas foi sincero).
FA – Um livro já foi o mote para um amor?
RF – O mote não… mas sem dúvida que tiveram um papel fundamental 😊
FA – Um dia perfeito tem literatura, Itália e um pedaço de Porto?
RF – Sem dúvida. E música. Mas queria aproveitar para dizer que estas férias tive o privilégio de conhecer melhor o Alentejo, e está a ganhar um espaço importante também no meu coração 😊
FA – Obrigado 🙂
RF – Obrigada eu!
Nasceu em 1986, na cidade da Maia, romântica, perfeccionista, apaixonada pela natureza e naturalmente pelos livros. Formada em Engenharia Eletrotécnica e Marketing, trouxe ao mundo aos trinta e três anos o “Esquece Quem Eu Sou”. Não a quisemos esquecer e foi com sabor a café e vista sobre o mar que se desenrolou a agradável conversa que agora disponibilizamos. Somos vizinhos e praticamente desconhecíamos, mas há algo que nos une: a criação do zero de uma personagem Rita e de um Ian que prometem fazer sonhar. É apaixonada pela cidade do Porto, fã de Miguel Araújo e quer virar a página na oferta literária “com bolinha vermelha” em Portugal. Sem mais demora, para o Sílabas & Silêncio a primeira conversa de 2020!
(Francisco Azevedo/FA) – Catarina, obrigado teres aceite esta conversa. Se o dia oito de fevereiro fosse um perfume, que aroma teria?
Catarina Gomes (CG) – Frésias.
FA – Deste vida à Rita e ao Ian. Como começou esta viagem literária?
CG – Esta viagem começou em outubro de 2017, num dia comum de férias de Outono em que não havia nada de interessante para fazer. Tinha acabado de ler uma série de romances eróticos ou New Adult, já que eram todos traduzidos, e fui à procura do mesmo estilo escrito em português. Não encontrei nada e não percebia porque é que ninguém escrevia nesse estilo. Então, pus-me a folhear os livros que tinha lido, pensando: “isto são cerca de 300 páginas, não é assim tanto… Ok, eu sou capaz”. Foi assim que nasceu o meu primeiro livro, da vontade de ler mais, e criei esta história para mim, para eu ler. E da vontade de representar um género literário que, em Portugal, é totalmente dominado por autoras americanas e do Reino Unido. Já não escrevia desde a adolescência, a não ser conteúdos científicos!
FA – Recentemente, no Facebook partilhaste um poema – um intemporal de Fernando Pessoa. O amor, para ti é “fogo que arde sem se ver…”?
CG – Quem me dera conseguir pegar nesse poema e reescrevê-lo, sob a minha interpretação. É algo que arde sem se ver, sim, mas não um fogo… é algo mais lento, mais ponderado.
FA – Barbara Walter diz que uma boa pergunta é aquela que a nossa mãe nos ensinou a nunca fazer. Que boa pergunta fizeste hoje? Ou nos últimos dias? Tens sempre resposta para uma pergunta que não gostasses que te fizessem?
CG – Na realidade, não há perguntas desconfortáveis para mim. Além disso, sou demasiado impulsiva, para ter uma resposta treinada.
FA – Determinação e ambição são características da Rita. Em que momentos te revês na personagem principal?
CG – Em todos! Mas, enquanto a Rita é determinada, eu diria que posso ser um pouco “obstinada”, para meu próprio mal.
FA – A Rua de Sá da Bandeira e a “Dama de Copas” têm mais valor para ti desde o dia oito?
CG – Sem dúvida! Tenho um carinho enorme pela Dama de Copas, pelas pessoas que lá trabalham e pela Inês Basek, Margarida Furst e João Coimbra. O dia 8, em Sá da Bandeira (Porto) e o dia 14, em Santa Justa (Lisboa), foram apenas mais um passo que demos juntos, numa jornada onde sinto que eles estão sempre ao meu lado.
FA – As viagens são cruciais para depois no sossego do lar criar uma personagem e viajar por outros mundos?
CG – “Esquece Quem Eu Sou”, baseia-se muito nas minhas vivências na cidade do Porto, aos dias de hoje. Mas, sim, novos lugares ajudam imenso a criar novas personagens e interação entre elas, nesses mesmos locais.
FA – Um romance que “… possui todos os ingredientes para nos envolver…”? Que traços da Rita transportas de forma inconsciente para o teu dia-a-dia?
CG – A sua determinação e perseverança, indubitavelmente. E, aproveito a pergunta para abordar outro tema. A Rita é muito segura, não tem medo de perseguir os seus sonhos, não tem vergonha de dizer o que sente, nem de si mesma. De certa forma, julgo que a maioria dos romances ainda apontam uma mulher insegura e dependente do amor de um homem ou de outra mulher para se afirmar. A Rita não é nada disso! E, subtilmente, quis passar, precisamente, essa mensagem. Todas as mulheres têm direito ao amor, independentemente do seu aspecto físico, da sua profissão, das suas ambições, etc… Acho que é esse o ingrediente que nos envolve. A mulher moderna irá rever-se na Rita; a mulher “antiquada”, quererá ser como ela.
FA – Que livro “com bolinha vermelha” mexeu mais contigo?
CG – Curiosamente, um que tem “bolinha vermelha” literal na capa, mas que não chega aos calcanhares de vários que li que não têm essa marca visível, mas que mereciam. Chama-se “Confia em mim”, de Jennifer Armentrout, uma autora que, na minha opinião, escreve sempre bem, independentemente do estilo.
FA – Em “Todo o azul do mar” há uma passagem que diz “… Foi assim, como ver o mar. A primeira vez que os meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção de me apaixonar. Mera distração e já era tempo de se gostar…”. É indissociável o mar do amor?
CG – Esse poema é lindo (olhinhos com corações). Apesar de gostar de alguma poesia, não sou nada poética, pelo contrário, sou muito literal. Portanto, não vejo qualquer relação entre ambos. As pessoas adoram exprimir o amor sob a forma de coisas belas, como o mar, o céu, o universo… sempre em escalas megalómanas! Apesar de adorar a natureza, prefiro descrevê-los através de bens terrenos e vulgares, como “gelatina”, “meias quentes”.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo. Quantos livros tens em casa?
CG – Espera, vou contar! Impressos, 89. O meu problema é não ter uma estante, tenho-os espalhados pela casa.
FA – Passando agora um bocadinho pela arte & ofício da escrita. Preferes o silêncio ou a mesma música?
CG – Silêncio!
FA – Assusta uma página em branco?
CG – Nada! Quer apenas dizer que é hora de começar a escrever!
FA – Criar uma obra do zero nunca é fácil. Que processo não prescindes / levaste em conta para o “Esquece Quem Eu Sou”?
CG – Vou batizar, agora mesmo, um processo de escrita. Chama-se o “processo do prazer puro” de viver noutra casa, noutra cidade, com outras pessoas, frequentar outros lugares.
FA – Foram quantos meses de escrita?
CG – Estás-me a envergonhar, Francisco! Escrita, propriamente dita, e construção da história, cerca de 15 dias com paragem para comer, banho e pouquíssimas horas de sono. Entrei na história de uma maneira que ainda hoje não sei como fui capaz! Depois, precisei de cerca de 1 ano, para limar tudo e dar um fim à história.
FA – A Rita, o Ian, o amor, as incertezas, os cenários… Quanto tempo povoaram a tua cabeça? Já depois do ponto final?
CG – Ainda povoam! 🙂 Adoro aquelas duas personagens, afinal vivi com elas mais de um ano e foram as primeiras.
FA – Não sais de casa sem um livro. Que livro estás a ler? Recomendas?
CG – Estou a ler “O Poder Surpreendente das Ideias Absurdas” e, sim, recomendo, para quem tem receio de sair da caixa, de vez em quando.
FA – As booktubers são muito populares no mercado brasileiro, mas aqui em Portugal há poucas. Quem segues?
CG – Honestamente, nenhuma, ainda. Só há poucas semanas, comecei a dar os primeiros passos no Instagram e conheci algumas bookstagrammers. Penso que ainda temos muito para crescer nesse campo, e, a respeito disso, talvez tenha novidades em breve. 🙂
FA – Se este livro (bonito design da capa!) tivesse uma banda sonora, que dez temas incluirias?
CG – Dez, Francisco!?
– Who are You? – SVRCINA
– Close – Nick Jonas ft. Tove Lo
– Elegy for the arctic – Ludovico Einaudi
– How would you feel – Ed Sheeran
– Antes delas dizer que sim – Bárbara Tinoco
– Tonto de ti – Miguel Araújo
– Hurt for me – SYML
– You – Two Feet
– Fleurie – Breathe
2 Notas
CG – Tenho de aproveitar para dar os parabéns e registar um “Obrigada” ao Gonçalo Cardal Pais, da Emporium Editora, que foi quem desenhou a capa. Não sei o que se passou na cabeça dele, mas é a janela para a história do livro, sem sombra de dúvida, e é a minha cara! Segunda nota: Miguel Araújo, porque o considero um músico e poeta brilhante e porque é da nossa cidade, e que bem que ele a descreve!
FA – Referes no passado dia vinte e um de Fevereiro que “… a melhor parte de escrever um livro é saber que fiz alguém perder a noção do tempo…”. Que sensações um livro precisa de provocar em ti?
CG – Sensação de leveza e despreocupação, sensação de que não existe mais nada à minha volta. Sou só eu e aquelas personagens, num lugar qualquer que estou a visitar pela primeira vez.
FA – Um sonho que gostarias de ver realizado ainda este ano de 2020?
CG – Prefiro falar de objetivos. E, por acaso, prende-se com livros. Espero ver o meu segundo romance terminado, revisto, aprovado pelo meu “grupo privado de pré avaliadoras” e, se correr bem, editado. (Para voltar à Dama de Copas em Fevereiro de 2021).
Cati Freitas nasceu em Braga e traduz em tudo o que faz com as características de uma mulher do norte. Em 2003 abraçou a música na televisão ao participar na segunda edição do “Operação Triunfo”.
Na cidade dos arcebispos foi onde iniciou o percurso musical, tendo depois apostado em formação de canto no Porto, e como o mundo é pequeno, em conversa com a sua professora descobriu que o filho trabalhava com o produtor Tiago Costa – com quem viria a gravar o seu primeiro álbum “Dentro”, gravado entre Brasil e Portugal entre 2011 e 2012.
Antes, já havia participado em projetos musicais com nomes como Rui Veloso, Sara Tavares ou Expensive Soul. Claramente influenciada pela biblioteca e cultura MPB, pop e o cada vez mais apreciado Jazz, Cati Freitas não quis deixar acabar o ano de 2018 sem lançar o segundo álbum, desta vez com dez temas da sua autoria, o álbum fecha com “Perdidamente” de Florbela Espanca. Entre concertos de promoção de norte a sul, Cati encontrou uns minutos para uma troca de ideias e emoções sobre palavras do “Estrangeira”.
Francisco Azevedo – “…Quem serei eu afinal, se o fado triste não me encontrou? Serei eu uma estrangeira ou, simplesmente, quem eu sou?…”. Em que momentos Cati, te sentes estrangeira?
Cati Freitas – No momento em que o meu primeiro disco não foi colocado na Música Portuguesa. À parte disso, nunca me senti Estrangeira, muito pelo contrário.
2) FA – Se um beija-flor vem ao teu encontro, que momentos reservas só para ti no teu quarto?
CF – Os da escrita, da criação e da assimilação da vida.
3) FA – “… Falo com Deus, para beber água pura, e matar minha sede, no que a alma procura…”. Foi possível neste álbum encontrar respostas a questões em suspenso?
CF – Sim, o processo de composição deste disco foi claramente, além do desafio da experiência artística das onze canções que o constituem enquanto cantora e compositora, um processo minucioso de construção e desconstrução interior. Existencial.
4) FA – Percebe-se quando os teus olhos dizem não?
CF – Sim.
5) FA – A saudade atenua-se num sonho?
CF – Por vezes sim. Por vezes é mesmo a única maneira de nos sentirmos mais perto de quem amamos.
6) FA – Que importância tem a natureza numa arte como a composição?
CF – A de nos levar a escutar.
7) FA – Uma história que merece ser lida em silêncio…
CF – A de um grande amor.
8) FA – Minhota de gema. Que características não passam despercebidas na personalidade e na música?
CF – Força de expressão, fé, elegância e tradição.
9) FA – A solidão também pode ser doce?
CF – Sim. Mas isso exige que não tenhamos desistido de nós mesmos e nem dos outros.
10) FA – Se existir um retrato do sentimento, seria a cores ou a preto e branco?
CF – A cores.
11) FA – Vivemos num país com uma palavra intraduzível: Saudade. Que importância têm as palavras de Florbela Espanca no teu percurso?
CF – A de se ter sede de infinito.
O trabalho da Cati Freitas pode ser encontrado nas plataformas digitais e nos locais habituais.
https://itunes.apple.com/pt/album/estrangeira/1440148971
A Fnac apoia a cultura. O serão de hoje (domingo) teve casa cheia para receber uma doce voz de Braga, sorriso resgatado de um altar particular, Cati Freitas apresentou o seu álbum mais recente, depois de “Dentro” a autora mostrou mais o seu lado de poeta assinando dez dos onze temas do “Estrangeira”.
Acompanhada apenas por uma guitarra acústica levou os presentes e já conhecedores do seu trabalho por uma viagem de aproximadamente quarenta minutos, um registo bonito embora não ao alcance de todos.
O álbum está disponível em todas as plataformas digitais musicais e nos locais habituais. Dia 4 de Abril sobe ao palco da sala número dois da Casa da Música no Porto com os seus músicos e promete uma noite especial. Se o disco traz algo de novo ao panorama musical? Sim! Pelo menos em nós está renovada a esperança em Playlists com canções bem escritas e com conteúdo na língua rica de Camões.
Não percam esta semana a nossa agradável conversa por um caminho que nos juntou ao fim de alguns anos.
Parabéns Cati!
Desde que me lembro, o João era dos rapazes da escola que conquistava os sorrisos e atenções das raparigas. De guitarra às costas, partilhámos o palco na escola onde começámos a aprender os mesmos acordes. Já depois de abandonar temporariamente as canções, recordo-me de o ter encontrado de guitarra acústica num espaço atualmente ligado a uma seita religiosa, o Teatro São Pedro junto à estação de comboios – Espinho. A música eternizada por Mark Knopfler “What it is”. Daí até se decidir estar na música a 100% foi um curto passo, licenciou-se na área da educação e deu aulas em escolas primárias no concelho de Vila Nova de Gaia. A nossa conversa estava desde há uns meses assegurada, depois de nos encontrarmos no backstage do concerto dado em Espinho onde apresentou o álbum “And so it is” com a maior parte dos músicos que o ajudaram nesta viagem em estúdio – depois de várias viagens ao arquipélago dos Açores.
Obturar Falando (OF) – João, bem-vindo ao Obturador do Pensamento e à rubrica “Obturar falando”. Rogério Charraz num dos mais recentes trabalhos escreve “Para mudar a nossa história / E esquecer-te por inteiro / Fui à pasta da memória / e abri o teu ficheiro…”. A música serve como um disco rígido onde tens a oportunidade de eliminar o que te faz menos bem?
João Belchior (JB) – Obrigado! Bom, o papel da música é mesmo esse, eliminar o negativo. Sim. Pode ser um disco rígido! E é bom. Podemos sempre ir visitar as coisas antigas, e a nossa memória encarrega-se de esquecer o menos importante.
OF – Produzir um álbum requer pelo menos três requisitos base: bagagem, conhecimento e vontade. Neste longo processo o que foi mais difícil?
JB – E os três são só um: fazer num disco o melhor de mim. A dificuldade foi a abordagem a cada uma das sonoridades em diferentes temas. Ser criativo e manter uma linha ao longo do disco.
OF – O nosso percurso na aprendizagem começou na mesma altura e desde aí que os blues e a guitarra do Eric Clapton se tornaram um vício em ti. Como profissional da música quais as três qualidades que deve ter?
JB – Sim, ter a noção que acima de tudo estamos bem com o que fazemos. É uma grande qualidade. E essa leva a muita coisa para o futuro. Neste caso, acreditar nos blues (sorrisos!) mas mais nos alegres. Depois estar bem com as pessoas, estar tranquilo.
OF – Uma das desculpas para esta conversa foi o novo álbum e primeiro trabalho “And so it is”. Para quem ainda não conhece, como o descreverias?
JB – Bom… dá para ir por tanto caminho. Mas para mim, com o início que teve, muito antes da música, é uma fonte de aprendizagem. A saber escolher, perder e reconhecer o porquê e recomeçar.
OF – A Terceira está a pouco mais de três horas de distância. Sentiste-te num país diferente? O que tem de mágico?
JB – As vivências, a paisagem, os sons, à noite numa varanda com conversas de como podemos viver sempre melhor, e o saber que ali se tem tranquilidade.
OF – É do conhecimento público (mais no âmbito da amizade) o carinho que tens pela Sara Miguel, música na área da jazz. Que quota “culpa” teve ela neste teu trabalho?
JB – A Sara esteve sentada comigo naquele que foi dos melhores convívios que presenciei. A vivência do momento descrito na letra do “And so it is” foi comum. E pelos conselhos que ela me ofereceu para muito dele também.
OF – No concerto no passado mês de Agosto na Alameda 8 em Espinho deste a oportunidade ao público de conhecer a história por trás das canções – o que nem sempre acontece. Ser o autor das letras / músicas e o “viveur” das estórias tem mais valor?
JB – Torna tudo mais pessoal, e fiel. Porque se é uma necessidade exteriorizar tudo, fazê-lo numa canção é o meio mais real. O contar as histórias era necessário para se perceber o quanto boa energia o concerto traz. Mas deve ser contada poucas vezes, e ser relembrada com a música.
OF – Crescemos numa época em que já não existia censura. Neste “And so it is” achas que estarias em maus lençóis nalguma letra?
JB – Não… É tudo sobre mim, e amigos. E somos todos boas pessoas. Mas quem sabe um caminho intervertido… contra o estado da música em Portugal, em alguns aspectos.
OF – Como músico, que cuidado tens com a voz?
JB – Dormir bem, cantar correctamente e dar miminho às cordas vocais com boas bebidas. E não stressar também!
OF – A guitarra é um instrumento perfeito para viagens. Estas letras / ou muitas das ideias surgiram entre aeroportos e momentos de solidão?
JB – Por acaso não. Nenhuma letra partiu do estar sozinho, muitas melodias vieram à cabeça nesses momentos, mas por falar de coisas boas!
OF – Um dos temas preferidos do blog é “If the sun doesn´t come up…”. O que te diz a frase “Se os meus olhos mostrassem a minha Alma, toda a gente choraria quando me vissem sorrir”. Consegues sempre encontrar céu azul num dia cinzento?
JB – Nós podemos ter sempre um céu azul sobre nós, sem nuvens, peso na cabeça. E que de alguma forma, não querendo o impossível, pode acontecer. O mais importante de tudo, o estar tranquilo.
Sempre sonhei descobrir a playlist que Chico Buarque tem em casa. Sempre ambicionei saber um bocadinho mais de música para além das canções tradicionais / comerciais. Há não muito tempo atrás, recebi um convite para assistir a um concerto ao início da noite num espaço aprazível e agradável na minha cidade de Espinho. O cartaz convidava a uma bebida quente e a uma dose extra de respeito pelo músico. Qualquer músico (dos verdadeiros, aqueles com M maiúsculo) merece estar num espaço a actuar e o público presente (que escolheu estar naquele espaço àquela hora respeite o seu momento).
O concerto chamar-me-ia para uma introspecção, um recolhimento, um re-acreditar na música. À minha frente, e sem nada mais que uma voz doce e um violão afinado se encontrava Sarah Dhy – nascida na cidade de Vitória da Conquista, localizada no estado da Bahia. Foi criada em Cabo Frio no estado do Rio de Janeiro e mora atualmente em São Pedro da Aldeia – também no Rio de Janeiro. Foi convidada pela LITERARTE (Associação de Escritores e Artistas com Sede no Brasil e sub-sedes em 18 países) para participar de uma antologia infantil com o tema “A Vida no fundo do mar” com lançamentos no Carrossell do Louvre em Paris e no Instituto Camões em Praga – República Checa. Aceitou o convite e participou com a fábula “As aventuras do bebé de smoking”. Logo depois surgiu o convite para cantar no lançamento e preparou um repertório infantil corrente ao tema da antologia.
Em conversa com a presidente da LITERARTE Izabelle Valadares perguntou sobre a possibilidade de agendar concertos em Praga e Paris pois queria aproveitar a oportunidade e trazer para a Europa um repertório que fez em comemoração aos 60 anos da Bossa Nova (2018).
fotografia ©️ Ronaldo Miranda Fialho
Não é a primeira e com certeza não será a última que o Blog do Obturador na sua rubrica “Obturar falando” atravessa o imenso Atlântico. Se em “Há um mar que nos separa” Leonor Andrade encontrou as palavras certas de Miguel Gameiro
“… Se há um mar que nos separa, vou secá-lo de saudade, e apertar-te contra o peito… Beijo feito de vontade…” perceberão na nossa conversa que Bárbara Lins sente saudade do muito que já viveu. Nascida na terra do sol quente e das palavras certeiras de Jobim e Toquinho, foi com espanto que recebeu o convite para uma conversa informal sobre viagens, sobre jornalismo, sobre vida. Nunca pensou chegar tão longe o “Descobertas Bárbaras”. Deu-nos a total liberdade para a escolha das imagens que povoam e recheiam ainda mais a nossa conversa.
Obturar falando (OF) – Bárbara Lins, bem-vinda ao Obturador do Pensamento. Desde que lançou o espaço virtual “Descobertas Bárbaras” qual foi de facto a que mais dificilmente esquecerá?
Bárbara Lins (BL) – Foram quando os primeiros contatos de pessoas que se identificavam com o blog começaram a chegar. Gente que passava pelas mesmas situações que eu e que agradecia por eu estar compartilhando com elas o que vivi. É muito gostoso ter essa relação com quem nos lê.
OF – Os blogues estão em voga nos dias de hoje. Crê que são uma boa ferramenta de publicidade para o “bem e para o mal” ou simplesmente para alguns/algumas a forma de se tornarem “famosos”?
BL – Acredito que existem pessoas que criam blogs para serem famosos, mas a maioria está escrevendo para compartilhar algo que vivem, que amam, que faz parte da vida delas. Nisso eu acho importante existirem cada vez mais blogs para que as pessoas possam achar na internet outras pessoas com os mesmos interesses que ela. Assim formamos comunidades virtuais.
OF – Faz parte de uma família gigante: a Globo. Lembra-se do primeiro dia? E o primeiro directo?
BL – Lembro! A Globo é uma excelente empresa. Desde estudante tinha admiração pelo profissionalismo da equipe. Tenho muito orgulho de fazer parte desde time. Minha primeira entrada ao vivo foi na cobertura de um crime, na frente de uma delegacia de polícia. Quase enfartei! Fiquei muito nervosa, repeti o texto mil vezes antes do jornal começar. No final deu tudo certo, mas até hoje fico ansiosa antes de entrar ao vivo.
OF – A paixão pela fotografia de viagens e o jornalismo estão no mesmo patamar ou tem preferência por alguma delas?
BL – Jornalismo vem primeiro. Amo contar histórias. Sou apaixonada por conhecer gente nova, lugares novos, viver diferentes experiências. Ele me proporciona vivências únicas. Em 2015, numa mesma semana estava cobrindo uma reunião da ONU em Nova York ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama e do Papa Francisco e dois dias depois estava embaixo de uma ponte no interior do estado de goiás no Brasil cobrindo o desaparecimento de uma santa que ficava na entrada da cidade. Isso é fantástico!
OF – Quando recebeu o convite de um blog com seis meses de vida do outro lado do Atlântico para uma conversa informal, qual foi a primeira reação?
BL – Fiquei surpresa! Nunca imaginei que o blog era lido por aí! Já curtia o trabalho de vocês, ter esse reconhecimento foi muito bom.
OF – Um dos posts publicados no seu espaço “Férias não precisam ser eficientes. Precisam ser férias”. O bom e o mau de uma viagem entre dois continentes?
BL – O problema é que a gente tem uma vontade de conhecer tudo de uma vez. Daí faz um roteiro com mil atividades ao mesmo tempo e esquece que férias também foram feitas para relaxar. Visitando outro continente é ainda pior. É tudo novo, fica mais difícil você lembrar que é preciso ter calma para apreciar melhor o destino.
OF – Qual acha que deve ser o papel da comunicação social na divulgação de um lugar protegido?
BL – Essencial! Nosso papel é explicar para população porque um determinado lugar merece atenção e cuidados especiais. Tenho investido muito doeu tempo com reportagens sobre preservação ambiental. Nós comunicadores conseguimos com exemplos, personagens e dados explicar de uma forma mais fácil os motivos que levam um lugar a ser protegido.
OF – Machu Picchu é mesmo um santuário a céu aberto?
BL – Sem dúvida é o lugar em que mais me senti conectada com o mundo. É um lugar sagrado, com uma energia incrível. No fim do dia quando estavam todos indo embora eu fiquei um bom tempo sozinha deitada entre as ruínas. Foi um momento mágico! Só estando lá para entender.
OF – Com aproximadamente 14 mil seguidores numa rede social, há espaço e tempo para se desligar de tudo e ser a Bárbara?
BL – Estou num processo até para descobrir quem é a Bárbara (risos). Por muito tempo segui o que achavam que o era o melhor pra mim. Tem sempre alguém dizendo o que o que você deve fazer, seja família, chefe, mídia, namorado, amigos, mas há uns três anos tenho passado por uma transformação e faz parte disso tudo ter mais tempo para autoconhecimento. Mesmo com muitos seguidores e trabalho eu tenho me dado tempo para isso e tem sido maravilhoso!
OF – Para uma aventura como os “Caminhos de Santiago” o que é indispensável na mochila?
BL – Depois de tantas trilhas, estou chegando a conclusão de que nada é indispensável. Tenho até um projeto de um dia viajar só com a roupa do corpo. Nem mochila quero levar.
OF – Gonçalo Cadilhe é um dos principais escritores de viagens. Para si quem não podemos deixar de ler antes de uma aventura de mochila às costas?
BL – Que pergunta difícil. Tenho uma biblioteca gigante só de livros de viagem.
OF – O turismo de mochila ainda é visto como de gente “hippie” ou “aventureira”?
BL – Aqui no Brasil infelizmente ainda há muito este tipo de visão, mas na Europa e outras parte do mundo muita gente já percebeu que viajar leve, apenas com uma mochila, é um jeito mais prático, divertido e original de conhecer um novo destino.
OF – Uma experiência que não voltará a repetir. E se soubesse que seria uma última viagem: que destino escolheria?
BL – Visitar Veneza em época de férias ou carnaval. Que terror, a cidade fica lotada, mal dá para andar. É impossível aproveitar a cidade assim. Tem algumas destinos e passeios que são tão terríveis que estou escrevendo um post “7 lugares para morrer antes de ir”. Minha última viagem certamente seria para o interior da Itália, lugares lindos, comidas maravilhosas, história por todos os cantos.
OF – Sebastião Salgado – fotógrafo mundialmente conhecido pela sua paixão pela Natureza – criou no final dos anos 90 o Instituto Terra na região de Aimorés. Como é que o Brasil viveu a tragédia ambiental no Rio Doce?
BL – Foi impactante. Todo ficamos muito tristes. Fizemos muitas mobilizações para arrecadar alimentos e ajudar as pessoas que moram naquelas comunidades. O problema é que o impacto ruim continua e a mobilização acabou. É preciso lembrar sempre, esse e nosso papel como jornalista.
OF – No final de cada conversa lançamos sempre um desafio aos convidados do “Obturar falando”. Uma palavra para cada uma das apresentadas:
A) Televisão: diversão
B) Sorriso: modo de vida
C) Natureza: essencial
D) Portugal: roadtrip
E) Brasil: diversidade
F) Viagens: transformação
Rita Azevedo (RA) – Olá, em primeiro lugar muito obrigada pelo convite, foi sim uma surpresa muito agradável. Mais do que relatar a minha experiência, gostava de conseguir sensibilizar as pessoas, ainda mais, porque na minha opinião, há muitas pessoas já envolvidas em causas muito nobres, relativamente aos meninos de África. Se acho que há em Portugal muitas formas de ajudar, sim, mas lá a pobreza é extrema e a mentalidade deles é muito diferente da nossa, o “trabalho” no terreno é muito importante.
OF – A primeira fotografia que te fiz e que me recordo bem é de tigre ao peito, com um rabo de cavalo e a sorrir num campo de voleibol. Como tens vivido o renascer do tigre?
RA – Eu adoro essa fotografia! Está acontecer o que eu sempre desejei. Se eu não tive oportunidade de continuar a defender a camisola, espero que, no que diz respeito ao voleibol, as seniores femininas sejam muito felizes! Eu vou, com certeza, acompanhar de perto e festejar cada vitória como se fosse minha. Uma vez tigre, para sempre tigre!
OF – Uma das “desculpas” para esta nossa conversa tem por definição uma entrega a uma causa. O voluntariado causou-te o misto de excitação e medo?
Rita e os amigos de sempre do Centro Wanalea, Kenya |
RA – Sim, foi isso mesmo que senti quando a vontade de ir se tornou numa realidade. A verdade é que me lembro de dizer à minha mãe que gostava de fazer voluntariado fora há muito tempo. Acho que sempre estive à espera de um momento certo e, penso que, a partir do momento que a Inês disse que ia comigo, eu soube que era o que me faltava. Porque a ideia de ir para longe, sozinha, deixava-me inquieta, não sabia como reagiria ao ver tudo o que vimos, sozinha, sem dúvida que foi uma segurança para mim, ir com uma amiga.
OF – Imagino que o número de horas de voo até ao destino te deixou tempo para dormir e sonhar. Ainda te lembras em que pensaste quando a porta do avião se abriu em solo africano? Como foi a despedida em Portugal?
RA – Quando percebi que estava a sobrevoar África senti uma alegria até estúpida (haha!) Quando cheguei a Nairobi era tarde, por volta das quatro e meia da manhã, apesar disso e dos três voos estava muito entusiasmada, lembro-me de pensar “agora sim, é real, estou aqui!”. Não gosto de despedidas, prefiro na altura dizer “até já” e “gosto muito de vocês” rapidinho, porque felizmente a internet facilita a distância. Mas claro, antes de ir, fiz por estar com as pessoas de quem mais gosto.
OF – Quanto tempo durou essa aventura? Em que região estiveste?
RA – Estive cerca de três semanas em Ongata Rongai, Kenya. Numa zona denominada Rimpa, num centro, o Centro Wanalea.
OF – O arrependimento é a confirmação tácita de que fizemos algo que não deveríamos ter feito. Algum momento nessa experiência que desejaste não estar ali?
RA – Não, nunca senti.
OF – O que mais te apaixonou naquelas pessoas?
RA – A felicidade que demonstram tendo tão pouco, e, não me estou a referir a bens, mas sim, ao facto de muitos não terem família e de nem saberem de onde vieram.
OF – Bob Marley diz que o sorriso é a curva mais bonita de uma mulher. Imagino que o do sorriso de uma criança em África e um abraço à chegada não tem preço.
Os sorrisos que não deixam ninguém indiferente! |
RA – (Haha, boa citação!) . Realmente não tem, estava à espera que fossem simpáticas, mas na verdade são calorosas, e, de uma simplicidade apaixonante.
OF – Um pôr-do-sol em África substitui um final de tarde em Espinho?
RA – Não. A ideia de final de dia para mim é o sol a pôr-se no nosso mar. Mas recomendo vivamente um início de dia, um nascer do sol, em África.
OF – Quase a terminar medicina dentária. Se Portugal fosse um doente que descobririas no raio x?
RA – “Cáries”, algumas bem graves, mas felizmente tratáveis. Somos uns sortudos!
OF – Num mundo competitivo e recheado de intrigas, o que te tira do sério?
RA – Mentiras, omissões ou até falta de frontalidade. Não gosto que me “enrolem”. Prefiro ouvir alguma coisa que não vá gostar, do que posteriormente descobrir que afinal não foi bem como me disseram.
OF – Diz-se que um sonho sem acção é fantasia. De todos os sonhos qual esperas ver realizado a curto prazo?
RA – Com esta viagem ao Kenya, concretizei um sonho. Preciso de mais tempo para escolher o próximo, não consigo responder agora.
OF – Imagino que tenhas levado contigo objectos que te dizem muito. Sem querer entrar na privacidade, o que não te perdoarias de ter esquecido?
RA – Três fotografias físicas das pessoas de quem mais gosto, ando com elas para todo o lado.
OF – Que canções ecoaram em ti durante o dia longe de casa?
RA – Sinceramente dei por mim a cantarolar as músicas que os meninos do centro ouviam, nomeadamente a “Good Life – G Easy & Kehlani”, até porque repetiam e repetiam as mesmas ao longo do dia (haha!). Mas nos meus momentos “The Blower´s Daughter” – Damien Rice.
OF – Se tivesses que dar um título a esta experiência qual seria?
RA – “Mararafiki” – significa amigos em “Swahili” a língua oficial do Quénia. Foi o Scott, um menino de sete anos que me ensinou e faz sentido, porque durante três semanas criaram-se laços e eu senti-me uma pessoa próxima de todas as pessoas do centro, e, vou preocupar-me para sempre com eles.
A convidada do primeiro “Obturar Falando” nasceu no Porto a 20 de Outubro de 1995. Oriunda de uma família musical (como poderão ler mais a baixo na entrevista) – Helena Kendall foi a voz escolhida pelo compositor João Só que lançou entre outros “Sorte Grande” com Lúcia Moniz ou “Vai por mim” no álbum que assinou a meias com Miguel Araújo Jorge (Mendes & João Só). À semelhança do que aconteceu em 2012 – a Rádio e Televisão Portuguesa – lançou o convite a 10 autores e assim nasceu o tema “Andamos no céu” uma balada de amor que promete ecoar na cabeça das pessoas que a ouvirem e no coração dos mais apaixonados.
Helena estará acompanhada em palco da sua guitarra e por um coro. Uma das suas citações preferidas é “Now I Know we are the lucky ones” (Agora sei que somos os sortudos). Apaixonada pela vida tem um enorme sentido cívico o que a levou a uma missão solidária em Cabo Verde. Convido-vos a conhecer um pouco mais da voz da canção nº 5 da segunda semi-final do Festival Da Canção 2017: Helena Kendall. – Helena, como o nome da canção indica, “andas no céu”? Sem dúvida que sim, em todos os sentidos. Apesar de ter os pés assentes na terra no que toca a sonhar, gosto muito de o fazer e talvez por isso seja tão distraída. Este “andar no céu” refere-se também a um estado de paixão e felicidade com o qual me identifico todos os dias. – A música entrou na tua vida há quanto tempo? A música entrou na minha vida relativamente cedo, sem que eu tenha dado por isso. Tenho uma família muito musical e sempre foi natural cantarmos cá em casa. Comecei pelo piano mas ao fim de alguns anos não quis continuar. Só mais tarde, pelos dezasseis anos é que me ofereceram uma guitarra e sozinha, pouco a pouco, comecei a tocar e foi aí que descobri a minha voz. Já gostava bastante de escrever por isso foi uma questão de tempo até juntar tudo para criar os meus originais. – A primeira vez que te ouvi foi na Fnac e recordo-me de um tema teu sobre uma aventura como voluntária. Acreditas que o nosso caminho leva-nos a palcos assim? Não é por acaso que esse tema, “Saltiness”, foi o primeiro que compus, precisamente durante a missão de voluntariado que fiz em Cabo Verde. Representa uma parte muito importante de mim e da minha vida, que é a entrega ao outros. Para mim a música é isso, uma ferramente simples mas poderosa que me permite chegar mais perto de quem me rodeia e transmitir muitas ideias e estados de espírito. Acredito que a música faz mais sentido quando tem por base bons valores e ações e sinto que fiz um bom caminho até agora, com muita sorte à mistura. – Em relação a festival da canção: José Cid e Lúcia Moniz são as tuas maiores lembranças. Quais as expectativas para esta segunda semi-final? Espero, acima de tudo, que haja muita qualidade musical. Tenho muita curiosidade em conhecer as restantes canções e tenho a certeza que será um bom recomeço para o concurso português. – Vais estar com uma guitarra em palco e acompanhada por coro. É um regresso aos tempos dos “Meninos do Coro”? Pode dizer-se que sim. É uma fórmula que me deixa confortável e que pude explorar graças ao grupo “Meninos do Coro” do qual faço orgulhosamente parte. Foi assim que sempre me vi em palco e que ultrapassei as minhas inseguranças. – Quais são as tuas referências na música em Portugal? E no Mundo? Começando por Portugal tenho obrigatoriamente que mencionar o Miguel Araújo por ser uma grande referência como músico e como pessoa. Outros nomes como António Zambujo, Luísa Sobral ou Tiago Bettencourt fazem parte da minha playlist diária, sem esquecer o grande Rui Veloso. Também ouço muita música internacional e desde que me lembro que tenho o John Mayer a ecoar na minha cabeça. Depende um bocado do estado de espírito mas passo muitas vezes por álbuns completos do Ben Howard, Bob Dylan, Mumford and Sons.. Ultimamente tenho cantado Chico Buarque, Mallu Magalhães e também Marcelo Camelo. Podia continuar a lista interminável mas estas são talvez as minhas prinicipais inspirações. |
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