O parque de estacionamento da Nave Polivalente de Espinho servirá uma dose dupla de cinema ao ar livre no tradicional modelo americano Drive-In. Depois de “Meanwhile on Earth” a passar no Auditório da Junta de Freguesia de Espinho pelas 20h30, “Força Maior” será o primeiro a passar na tela gigante.
A organização do FEST está (ao momento da publicação) a ultimar os preparativos para que todos os que venham ao exterior do edifício, possam assistir às exibições nas viaturas sem prejudicar (quem está na fila atrás).
O Covid-19 afectou todos os sectores de actividade, e o ramo do audio visual não foi excepção. Assim, a União Audiovisual aliou-se ao FEST e estará em Espinho a recolher bens alimentares no âmbito das sessões de cinema Drive-In. A recolha será feita antes do início de cada sessão e servirá para ajudar profissionais do ramo que se encontram a braços com as dificuldades causadas pela crise. Os interessados deverão levar bens não perecíveis e, se possível, devidamente acondicionados em sacos.
Para saber um pouco mais visitem:
http://uniaoaudiovisual.pt
Espinho é cultura, indissociável do mar e das suas gentes, a cidade quadriculada está de novo de mãos dadas com o cinema. Num ano particularmente difícil, a organização de um festival de cinema com todas as condicionantes e restrições de circulação não foram suficientes para demover a equipa de Filipe Pereira, que (re)encontrou no Município e na Junta de Freguesia um incondicional parceiro.
As boas-vindas foram dadas pelo próprio director do Festival FEST – Filipe Pereira – no Auditório (recentemente intervencionado) e devidamente “calibrado” para que as distâncias de segurança fossem mantidas entre os participantes, de resto, todos os que estavam presentes no auditório permaneceram com máscara até ao final da sessão, o que transmitiu desde logo um sentimento de segurança. À entrada era disponibilizado o já “famoso” álcool-gel e todo um circuito de circulação de pessoas devidamente sinalizado no chão, de resto, a própria Junta de Freguesia disponibilizou-se na totalidade na pessoa do seu presidente, Vasco Alves Ribeiro, para a colocação de cartazes, Roll-ups do festival.
Também marcaram presença na abertura do festival, o Presidente do Turismo de Porto & Norte, os presidentes das juntas de freguesia Anta & Guetim e Silvalde. O certame que decorre entre os dias 2 e 9 traz a Espinho duzentos e trinta filmes espalhados por cinco salas em três cidades.
Depois das intervenções, e com a “sede” de cultura cinematográfica, as luzes do auditório desceram para a exibição da obra PATRICK de Tim Mielants. O pontapé de saída fica assim dado e a julgar pela sala composta, não temos a menor dúvida que o FEST 2020 será tema de conversa ao longo dos próximos tempos.
José Correia Guedes nasceu na cidade do Porto em 1946, e fez dos céus o seu “local” de trabalho. Apaixonado por automóveis não conseguiu cumprir o sonho de menino de ser piloto de Fórmula 1, mas confessa ter tido um êxito interessante como músico de rock & roll com a Banda “Os Kondes” que contava entre outros rapazes com Fernando Gomes que viria a tornar-se Presidente da Câmara Municipal do Porto. Embora apaixonado pela área das letras e Humanidades, o seu percurso académico passou pela Engenharia, a música, a paixão pelos automóveis continuaria a captar mais a sua atenção. Foi mobilizado para África durante dois anos e quando regressou tentou a sorte inscrevendo-se na TAP, depois de ser “bombardeado” com a publicidade de uma cadeira do cockpit “Este lugar pode ser ocupado por si”. Na altura, a Transportadora Aérea Portuguesa não dava vazão a tantas deslocações e precisava de pilotos. Inscreveu-se também para Comissário de Bordo e foi aí que começou a viajar e a conhecer o mundo. Rumou aos Estados Unidos da América onde fez o curso do piloto e esteve praticamente quarenta anos em trânsito. Foi sequestrado, escreveu dois livros “Na Rota do Yankee Clipper” e “O Aviador” onde reune 20 histórias com finais cómicos e felizes, uma obra para aerofóbicos. Os que conseguem “voar sem medo” tornam-se viajantes compulsivos. Transportou a equipa do FCP em 2004 trazendo a taça para o Porto. Foi o primeiro comandante da aviação a mudar o “callsign” de um voo para “CHAMPS”. São muitas histórias, e que poderão saber um pouco mais! Quanto a nós, foi uma honra voar consigo, Comandante José Guedes!
FA – Caro José Correia Guedes, de todos os preparativos para uma viagem, quais até aos dias de hoje considera indispensáveis?
JG – Quando trabalhava, era o repouso. Agora tento não me esquecer dos medicamentos!
FA – Numa recente entrevista a Rui Unas no seu podcast “Maluco Beleza” disse não ter saudades de voar. Recorda-se da última viagem como Comandante?
JG – O meu último voo foi do Rio de Janeiro para Lisboa. Aterrei ao nascer do dia debaixo de uma enorme tempestade. A chuva e o vento eram de tal forma intensos que só nos últimos instantes consegui ver a pista. Uff, que alívio!
FA – Quando alguém novo lhe pede conselhos para uma carreira serena na aviação, que guidelines consegue dar?
JG – Penso que nestes tempos que atravessamos já não há “carreiras serenas”. A receita, porém, é sempre a mesma: estudar muito, conhecer bem o avião, respeitar os colegas.
FA – A primeira viagem como piloto é como o primeiro amor, não se esquece?
JG – Lembro-me do primeiro amor, mas não da primeira viagem como piloto. Mas lembro-me muito bem da primeira vez que voei sozinho num avião de treino. Essa é que nunca se esquece.
FA – As noites em claro são o pior da vida de um piloto?
JG – Não! Os fusos horários fazem muito mais estragos. De resto, até gostava de voar de noite.
FA – Como é tomar o pequeno-almoço em casa e três horas depois (sensivelmente) almoçar numa capital como Paris?
JG – Qualquer passageiro pode fazer isso. Com a aviação, o mundo ficou muito mais pequeno.
FA – Viajando atrás no tempo, houve algum tempo em que se tenha arrependido da escolha que fez?
JG – Nunca. Eu não escolhi nada; tive a sorte de ser escolhido. A minha gratidão será eterna enquanto viver (esta roubei ao poeta Vinicius).
FA – É uma das vozes mais cativantes que já tivemos oportunidade de ouvir e um contador de histórias nato. Alguma vez foi convidado para fazer um anúncio publicitário?
JG – Sim. Fiz alguns anúncios na década de 80. Eram muito bem pagos e eu divertia-me com aquilo.
FA – É um confesso apaixonado por música, literatura e viagens. Que livro sugere para uma viagem entre Lisboa e Nova Iorque?
JG – Posso recomendar “O Aviador”? Em alternativa sugiro “Na Rota do Yankee Clipper”, do mesmo autor (Não há entrevistas “à borla”, sabia?)
FA – Voltando aos tempos de meninice do Porto e Vila do Conde, que sonhos tinha o menino José?
JG – O menino José queria ser músico de rock and roll e, mais tarde, piloto de Fórmula 1. Consegui ter uma carreira minimamente interessante como músico, mas falhei estrondosamente o objectivo da Fórmula 1.
FA – Alguém com uma ligação especial ao Porto, como descreve o desafio proposto do chefe de frota para levar o A-330 até Gelsernkirschen?
JG – Era um A340. Uma proposta irrecusável. O Porto é a minha cidade natal e o FC do Porto o único clube de futebol de que fui sócio. Além disso, algo me dizia que aquele podia ser um momento histórico. Foi mesmo!
FA – Tem de memória quantos ilustres levou às nuvens?
JG – Não faço ideia. Transportei centenas de milhares de passageiros de todos os meios e condições sociais. Para mim sempre foram iguais. Eram apenas pessoas que tinha temporariamente a meu cargo.
FA – Estar a trinta e cinco mil pés de terra firme, fá-lo ter uma ligação especial com Deus?
JG – Pensei muitas vezes nisso, em especial durante as longas viagens nocturnas. Olhar para a vastidão do Universo e não entender nada do que por lá se passa, levanta questões angustiantes.
FA – Os programas televisivos que abordam os desastres aéreos são (a seu ver) um programa proibido para os aerofóbicos?
JG – Não, de todo. Acho apenas um paradoxo que alguém que tem medo de voar se divirta a ver programas sobre acidentes aéreos. Mas já me disseram que essa é uma forma dos aerofóbicos justificarem os seus medos. Faz sentido!
FA – A melhor forma de vencer um medo é combatê-lo. Que conselhos dá a quem o contacta e que adorava conhecer um paraíso como a Madeira?
JG – O medo de voar é irracional e não se combate com estatísticas. Têm que ser as pessoas a vencer os seus próprios medos. Costumo dizer que ter medo é um bom sinal: é o nosso instinto de sobrevivência a funcionar. Conheço casos de pessoas que uma vez vencido o medo de voar se transformaram em viajantes compulsivos. Os psicólogos sabem explicar o fenómeno.
FA – De todos os aeroportos em que esteve, qual o mais confuso? E o mais moderno?
JG – Confuso? Lisboa, em pleno verão. É o caos absoluto. Nos mais modernos escolheria o Dubai.
FA – Num voo turbulento, o que é para si pior ter: um passageiro em pânico ou uma assistente de bordo inexperiente?
JG – Nunca me aconteceu ter uma Assistente de Bordo com medo de turbulência. Tratando-se de passageiros, às vezes uma visita ao cockpit resolve o problema.
FA – Se pudesse voltar atrás no tempo, que pergunta faria ao Almirante Gago Coutinho e a Sacadura Cabral?
JG – Como conseguiram localizar os penedos de S. Pedro e S. Paulo no meio do Atlântico? Com a tecnologia da época, isso não foi uma façanha, foi um prodígio. Têm toda a minha admiração.
FA – Depois do momento do sequestro nos anos 70/80, que momento intenso não esquece?
JG – Gelsenkirchen foi um deles. Uma viagem à Austrália para levar tropas para Timor, foi outro. E mais alguns que não posso contar.
FA – Como se sente por ter sido o primeiro comandante a fazer uma alteração no “callsign” do voo “TP9224” para “CHAMPS”?
JG – Um orgulho muito grande. Às vezes tenho boas ideias.
FA – Como está a ver o regresso do futebol aos estádios sem público?
JG – Futebol sem público é como cozido à portuguesa sem carne. Não tem a mínima graça.
FA – Ainda no mundo do futebol, em 1983 que lhe disse Eusébio da Silva Ferreira a caminho de Roma?
JG – Está tudo bem por aqui, pá?”. O King detestava voar e só no cockpit se sentia seguro. Ainda bem para nós, porque era uma fantástica companhia.
FA – A revista “Sirius” é a menina dos seus olhos?
JG – Não, mas tenho muito orgulho em ter sido um dos fundadores e o primeiro director adjunto.
FA – O “Piratinha do Ar” continua a dar notícias?
JG – Sim, falamos de vez em quando. Gosto de acompanhar os sucessos que vem tendo na vida.
FA – Fernando Gomes teve tanto êxito nos “Kondes” como na Câmara Municipal do Porto?
JG – “Cantava” melhor na CM do Porto porque não tinha de me aturar. Penso que foi ele que deu início à enorme e muito bem sucedida transformação da cidade do Porto, hoje uma das mais bonitas e interessantes da Europa.
FA – Num podcast ligado à aviação, que três pessoas convidaria para uma hora e meia de conversa?
JG – Comandantes Silva Soares, John Casqueiro e José Gil Menezes. Infelizmente já nenhum se encontra entre nós. As três personalidades mais fascinantes que conheci em toda a minha carreira na aviação.
FA – Uma noite ao piano corresponde a uma viagem transatlântica?
JG – Uma noite ao piano é uma noite de paz e elevação. Não chegamos ao fim cansados e com as horas trocadas.
FA – O Porsche 356 tem histórias para fazer um novo livro?
JG – Já fiz. Existe uma História dos Porsche 356 em Portugal que escrevi em colaboração com Luís Sousa. Está online.
FA – Para terminar, e sendo o Comandante José Correia Guedes uma pessoa ligada à área das Humanidades e das Letras, que poema guarda na memória?
JG – “Quando morrer quero voltar para viver os momentos que não passei junto do mar”, Sophia de Mello Breyner.
FA – Se um fã lhe oferecesse uma viagem para dois à escolha, que destino escolheria?
JG – Costumo ter azar. Há muitos anos, numa tômbola de golf, ganhei um fim-de-semana no Funchal. Na altura viajava umas 50 vezes por ano para a Madeira e conhecia a cidade como as minhas mãos. Troquei com alguém que tinha ganho uma subscrição de um jornal inglês. Ficámos ambos felizes!
FA – Obrigado por esta conversa!
JG – Foi um prazer.
Podem seguir o Facebook e o Instagram que tem histórias e imagens deliciosas em:
https://www.facebook.com/cptguedes/
Aos 2 de Junho, o Gabinete de Comando do Corpo de Bombeiros do Concelho de Espinho fez chegar ao e-mail da Focal Point Studio o Comunicado de Imprensa referente ao balanço da situação da pandemia que assola Portugal e o mundo.
A Focal Point vem por este meio agradecer a atenção e disponibilização de dados que são de interesse público a Espinho e a todos os que nos visitam. Já é sócio da Corporação? Se não, é só passar pela Secretaria dos Bombeiros e preencher a ficha de inscrição!
“O sal, das minhas lágrimas de amor
Criou um mar que existe entre nós dois
Para nos unir e separar…”
Na preparação da nossa viagem, quem fez companhia é uma dupla “improvável” – um fado de Vinícius de Moraes e a voz quente de Carminho. Podemos vir até falar de amor, sobre paisagens, mas será sempre por Portugal, pelo Brasil, pelo céu azul do Algarve e os socalcos do Douro.
Caliandra Belniowski é uma referência na arte de saborear o vinho (wine influencer do ano), uma diva no prazer de incendiar um charuto na companhia da lua e, uma musa que inspiraria (estamos certos!) o mais puro dos poetas. Não é difícil imaginar Jobim / Vinícius ou Fernando Pessoa a desenharem os seus traços em palavras. A primeira vez que vi Caliandra foi numa reportagem da SIC na lonjura alentejana com mais um punhado de entusiastas do prazer de Baco.
A sua história especial com Portugal tem os tons da capital, mas não consegue desligar-se de forma alguma dos socalcos do Douro e da cidade do Porto – onde espera um dia viver.
FA – Caliandra, obrigado por esta conversa entre dois continentes. Para quebrar este “gelo” e a distância social, que vinho escolherias para um início de conversa?
CB – Bom meu caro, eu que agradeço o convite e para que você brinde comigo num momento mágico, como esta maravilhosa conversa será, escolho o Scala Coeli, um monocasta de Alicante Bouschet da Adega Cartuxa, um vinho que o nome já diz para o que veio,”Escada para o céu”, nos levando para outra dimensão, um vinho singular dessa uva da qual sou fã e que representa muito bem Portugal e a mim! Uma uva tintureira, marcante, impossível passar desarpercebida por ela, intensa e surpreendente na cor, nos aromas e no paladar!
FA – Se tivesses vivido no tempo da Grécia Antiga, que conselho darias a Baco quando ele criou o vinho?
CB – Ahh as vezes me ponho a pensar em tais épocas, me fascinam, acho que falaria beba com moderação haha!
FA – O vinho é uma arte, que tem o seu custo e o trabalho. O respeito pela matéria, pelas pessoas que o trabalham e dão vida, ficou ainda mais elevado quando conheceste o terreno?
CB – Ahh com toda certeza, quando você conhece as pessoas da região, aquelas que colocam a sua mão na massa que vivem daquilo, você mesmo quando não gosta de um vinho, consegue perceber mesmo assim o valor e a importância que ele tem.
FA – Com esta vontade de falar de vinhos e de conhecer um pouco mais de um ser que emana luz, esqueci-me de perguntar se podia tratar por tu 🙂 desculpa! Um copo, é uma via para os sorrisos e um serão bem passado?
CB – És um querido, pode me tratar por tu, claro! Sem dúvida, eu costumo dizer que o vinho é uma bebida mágica ( quando na medida certa), capaz de derreter os corações gelados e fazem a mascara do medo, da timidez e da insegurança caírem ao chão, revelando sorrisos mais inebriantes, por isso também é considerada uma bebida romântica.
FA – Como foi o primeiro contacto com o vinho? Agradável ou nem por isso?
CB – Não foi amor a primeira vista! Eu não consumia nenhum tipo de bebida alcoolica e o meu paladar não estava acostumado para os primeiros vinhos que degustei, me lembro até que alguns achei desagradável. Mas sabia que existia ali algo que me atraia, então insisti até que em um vinho verde, encontrei a minha porta de entrada para o mundo do vinho e agora estou cá.
FA – O mundo tem lugares com características únicas para a cultura vínica. Que regiões do mundo conheces (além do Douro e Alentejo)?
CB – Já visitei Mendoza na Argentina e o Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul – Brasil, mas ainda há muito por conhecer e desvendar neste mundo vinico.
FA – Alguma delas se assemelha aos socalcos e ao rio especial que atravessa a cidade do Porto e Gaia?
CB – Para quem aprecia vinho, cada região é mágica, revela segredos em suas taças deste mundo que é incessantemente surpreendente! Para os apaixonados pelo vinho, costumo dizer que funciona igual a um casamento, diferente daquele flerte ou relacionamento despretencioso, com quem saimos algumas vezes, quando dá vontade a gente vê, mas nos mantemos sempre na superficialidade! No casamento, vamos a fundo, conhecemos a história, a família de onde vieram, as características, os defeitos… e assim seguimos tentando desvendar e conhecer todos os processos e entendemos que uma má experiencia, faz parte do aprendizado e não é isso que nos leva ao divórcio (risos!). Então posso dizer que as ainda poucas regiões que conheço, são únicas por natureza, todas me marcaram de um jeito especial e pretendo revisitar todas com mais tempo. O Douro ahhh o Douro, é impossível não se emocionar, tem o poder de nos fazer viajar no tempo e sentir a coragem que tiveram os trabalhadores que plantaram cada vinha, revivemos as suas dificuldades. Olhamos o rio e imaginamos aquelas embarcações antigas que desciam o Douro transportando os barris cheios de vinho. Estar ali é para os que casaram com o vinho uma lua de mel e para os que flertam, com certeza ali começam a considerar um relacionamento mais profunto e duraDouro como o Douro!
FA – A minha avó, que viveu até aos noventa e nove não tinha o hábito do vinho, mas não dispensava nas datas especiais um vinho do Porto. Que características te vem à memória que fazem dele um dos mais antigos do mundo?
CB – A característica principal você mesmo a descreveu, a tradição! Nem mesmo a sua sábia avó não dispensava a bebida nas comemorações, é o peso cultural que existe em algumas regiões, sobretudo do velho mundo. Depois, a influência dos grandes produtores e exportadores de vinho do Porto, que fizeram do Douro a primeira região com denominação de origem!
FA – A primeira fotografia que vi tua, foi na Quinta do Crasto (sou fã incondicional de néctares de 2015, especialmente tintos). Um fim de tarde naquela varanda e um “Vinha da Ponte” ou um “Vinha Maria Teresa” que sabor tem?
CB – Difícil fazer uma descrição que faça juz ao momento que apreciei ali, mas farei uma comparação para que os leitores tenham um noção e que ao mesmo tempo os deixe com vontade de ter a mesma experiência! Aos que apreciam vinho, sabem que na enogastronomia, numa harmonização perfeita, o sabor do vinho em comunhão com o sabor do alimento, criam o que chamamos de terceiro sabor, eles se complementam de maneira que um eleva a qualidade e o sabor do outro! Acho que a maneira mais simples de explicar o que senti ali! Um vinho da Quinta do Crasto harmonizado com aquela vista, criaram para mim o terceiro sabor. Individualmente, degustar o vinho ou apreciar aquela atmosfera já teria sido um prazer , mas os dois juntos me deixaram fazer parte de uma obra de arte, eternizada no tempo e guardada no meu coração!
FA – O que para ti funciona melhor numa tábua de queijos?
CB – A fome e a vontade de comer (risos!), brincadeira! Bom o vinho eu defino, na grande maioria das vezes pelo meu humor e sou daquelas pessoas que primeiro escolhe o vinho e depois decide o que irá comer, é claro que isso as vezes pode não dar certo, mas é que para mim a melhor parte da refeição é a que se bebe. Numa tábua de queijos, há sempre muitas variedades e intensidades de queijo, sendo que cada um seria apropriado um vinho especifico, nestes casos é aconselhado o gosto pessoal de cada um. Como um coringa acho os espumantes uma boa opção e os tintos leves de acidez mais elevada, para ajudar na limpeza do paladar.
FA – Combinação de castas ou monocasta? Experimentei recentemente uma casta Syrah do Alentejo e também (já fora desta quarentena) um Touriga Nacional da Quinta do Vallado.
CB – Eu aprecio muito monocastas como forma de aprender, de poder ver as particularidades de uma variedade em especifico, mas os vinhos de corte têm meu respeito e admiração, acho simplesmente lindo o trabalho enológico quase mágico, de fazer com que as castas se complementem na medida certa, uma integrando nos entregando muito mais.
FA – Em Abril (17) partilhaste no teu Instagram @brinda_comigo um conjunto de imagens em Catena Zapata. Que diferenças ao primeiro trago encontras num vinho argentino e um português?
CB – Bom, uma das principais diferenças seria a variedade de castas que encontramos na grande maioria dos vinhos portugueses que muitas vezes nem mencionadas são, enquanto na Argentina a uva emblemática e que é responsavel pela maioria dos rótulos produzidos por lá, é a Malbec. Depois as diferenças olfativas e gustativas podem variar muito pelo terroir de suas sub-regiões, mas com toda a certeza de que os dois países produzem com muita qualidade.
FA – Um bocadinho antes, em Março uma fotografia carregada de glamour e um texto que dizias “… o fato é que demoramos imenso tempo para poder escolher nossas roupas, nossas profissões e até como deveríamos comportar… ainda muito trabalho pela frente para educar a sociedade a respeitar a nossa liberdade, já podemos realizar grandes feitos e em relação ao vinho a nossa presença é cada dia mais notada…”. Que principais entraves encontraste no início da tua actividade profissional? É aí que entra a tua história com Portugal?
CB – Iniciei no mundo do vinho trabalhando em restaurantes portugueses, ali tive o primeiro contato com o serviço de vinho, mas não me aprofundei no conhecimento, só sabia que gostava, e muito! Quando regressei ao Brasil, percebi que poderia ser um mercado profissional muito promissor. Só que além de não termos a cultura voltada ao vinho, qualquer curso na area é muito caro, então tive que adiar durante muito tempo a minha profissionalização. Pois bem, quando enfim iniciei o curso de sommelier profissional e em simultaneo quis compartilhar o meu aprendizado nas redes sociais, na minha página @brinda_comigo, percebi que nem tudo seriam flores, e fui obrigada a lidar com duras criticas, sobre o meu jeito de falar de vinho, e porque não me levavam a sério. Então deduzi que teria que me assumir sim como “blogueirinha”, “wineinfluencer”, “sommeliere” e continuar com o meu trabalho seguindo a minha intuição. O importante para mim, são as pessoas que me seguem, que querem aprender sobre vinho, que estão começando a se descobrir neste mundo, interagem comigo, compartilham suas experiencias a partir do que viram nas minhas paginas e me dão um feedback super positivo, elas acreditam em mim e isso me motiva! Essa história me levou a Portugal novamente este ano, como finalista do concurso Melhor Sommelier do Alentejo, outra grande coroação da minha ainda curta trajetória no mundo do vinho.
FA – O Prémio Brindô 2019, foi um “arranque” para um percurso que pretendes levar até quando?
CB – Não foi um arranque, vejo como uma coroação de um trabalho que vem sendo feito com muito amor, muita dedicação e muito carinho. Quando comecei a única intenção era difundir a cultura do vinho no Brasil, não fazia ideia até onde poderia me levar, este prémio só veio mostrar que estou no caminho certo, fazendo o que sempre me propus a fazer! Até quando?! Não sei dizer, enquanto ainda houver vinho e o prazer em degusta-lo, talvez!
FA – Realizar uma sabragem é voltar ao tempo dos super heróis?
CB – Olha não sei se descreveria assim, mas é realmente uma sensação muito boa, posso dizer que me sinto como Napoleão Bonaparte ao comemorar uma vitória.
FA – Em Agosto, no dia 29 (também no Instagram) referes o trabalho de um Sommelier (ou escansão em Portugal) não ser valorizado e há inúmeras coisas que passam despercebidas… Em algum momento pensaste desistir?
CB – Não é um assunto confortável de se falar, pois acredito que nunca devemos desistir dos nossos sonhos e eu prefiro inspirar as pessoas a fazer o mesmo, mas sim já pensei em desistir muitas vezes. Sou mulher, jovem, mãe, falando de vinho em redes sociais, tem gente que acha lindo e poderoso, mas tem muitas pessoas que se incomodam com isso e fazem questão de tentar atrapalhar a sua caminhada, ou ainda, se dispõem a falar comentários ofensivos ou a tirar conclusões precipitadas a seu respeito sem ao menos te conhecer! O importante é que em todos os momentos que tinha estes pensamentos Deus me mostrou que não era este o caminho e me apresentou novas possibilidades, assim tenho me mantido de pé. Resiliência!
FA – Agora um exercício de criatividade… Um wine festival é um lugar ideal para…
CB – Celebrar a vida e o vinho, compartilhando muitos brindes!
FA – Os diálogos etílicos são…
CB – Às vezes profundos, às vezes divertidos, por vezes ainda melancólicos mas sempre verdadeiros… Afinal In Vino Veritas.
FA – Quem são as tuas referências no mercado do vinho no Brasil?
CB – Bom há vários nomes, o Gustavo Giacchero, Debora Breginski, Guilherme Balbino, André Ferreira, alguns não muito conhecidos mas que amam o que fazem e trabalham muito sério!
FA – Que sentimentos associas ao som do vinho a cair no copo?
CB – Posso comparar com o som do mar, ele nos tranquiliza e nos dá a sensação de fazer parte de algo maior.
FA – Um outro momento carregado de simbolismo e serenidade acompanha uma frase “A mulher é como a uva. Tantas partes a compõe. Ela não é uma. Ela é um todo!”. Que adjectivos escolherias para um perfil?
CB – De uva ou de uma mulher? (Risos!) Não sei se entendi bem, mas vamos a isso! De pele grossa e de cor reluzente, anunciando a potência dos taninos que precisarão serem apaziguados passando um tempo pelo carvalho. Madura no ponto certo, com o açúcar nas alturas prestes a fermentar e transformar essa potencia em álcool este que por sua vez vai integrar o sumo e fazer com que os elementos se unam em comunhão, sendo seco e elegante, os taninos aveludados e macios com eram em pele, a acidez se faz presente e necessária, provocando a salivação e em cada gole, a boca se preenche e espera por mais, ela é um vinho que não mata a sede, mas vicia!
FA – O “Da Magia a Sedução” Vinho e Erotismo é um evento secreto para mulheres. Podes partilhar um pouco dessa experiência?
CB – Claro, nasceu de uma ideia minha em proporcionar as mulheres um momento leve, descontraído mas que ao mesmo tempo elas possam aprender sobre vinho e sobre experiências, umas das outras! O evento sempre há uma surpresa, para provocar a mulher, para ela se sentir confiante e conhecer a sua própria força. Claro que o vinho faz o trabalho mais dificil, que é quebrar o gelo das participantes e fazerem elas irem aos poucos entrando no clima da brincadeira e interagindo. O erotismo passa pelo sexo e também falamos e debatemos sobre isso, mas antes disso ele passa pela auto – confiança, pela sedução de cada mulher e é este ponto que gostamos de trabalhar, afinal não existe mulher mais sensual que uma que é segura de si, mesmo conhecendo seus defeitos. No fim cada uma sai descobrindo algo sobre si mesma que nem imaginavam. O vinho na medida certa é libertador!
FA – “Ela é tão livre que um dia será presa…”. Como tem sido esta quarentena?
CB – Bom não é fácil, principalmente para alguém hiperativa como eu, sempre cheia de projetos, acostumada a correria. Estamos a ser forçados a parar e olhar para o nosso interior e também a pensar no próximo, nas classes mais prejudicadas que estão sendo afetadas não só pelo COVID19, mas também pela fome e tudo que esta vindo por causa da pandemia! Que seja uma lição aprendida e jamais esquecida! Eu tive imensos projetos parados, tive contrato de trabalho suspenso, mas tenho conseguido aproveitar muito mais minha filha, tenho lido mais, estudado assuntos novos e voltei a praticar yoga e meditação! Em todas as adversidades precisamos procurar pelas oportunidades, é o olhar a metade do copo cheio, ou a metade do copo vazio, acaba sendo uma decisão de cada um.
FA – Agora não tem a ver com vinhos, mas sim com saudades. Que sentimentos te invadem numa fotografia de um café e um pastel de Belém?
CB – Affff, muita nostalgia! Vivi em Potugal a minha junventude, a época sonhadora, em que acreditamos em tudo e em todos, movidos pela paixão normal da idade. Foram muitos aprendizados, muitos amores e muitos momentos inesquecíveis entre um café, um pastel de belém e taças de vinho.
FA – O Porto é um amor que não se explica?
CB – Certamente sim! Sabe tenho muitos amigos portugueses que me dizem até hoje que se eu tivesse morado no Porto eu não teria voltado para o Brasil (Risos!) pode ser mesmo que sim, mas era o destino, quem sabe ainda aconteça muitos reencontros nesta cidade!
FA – Agora vamos incendiar um charuto J Sigmund Freud diz “Smoking is indispensable if one has nothing to kiss” e são das imagens mais bonitas que se podem fazer, a nuvem e o imaginar do aroma numa mulher e um olhar sedutor. Já algum seguidor te pediu em casamento?
CB – Hahaha affff , já sim, mas certamente era brincadeira! Uma mulher com uma taça de vinho e um charuto na mão causa sérios danos na cabeça de um homem, eles podem até se sentir atraídos e curiosos, mas pasme, eles têm medo! Uma mulher que é capaz de fazer o que lhe dá prazer e não se importa com a opnião do mundo não é uma mulher para “casar” para a maioria dos homens. Homem quer segurança, quer quer as pessoas olhem e pensem da sua mulher como é linda, bem educada, bem formada, sabe se portar, uma lady . Não querem um vulcão que pode entrar em erupção a qualquer momento, isso é demasiado para a maioria deles.
FA – Um gesto que leva “os cabelos em pé” de um apreciador é ver um “amador” sacudir a cinza. Verdade ou mito que se deve deixar a cinza seguir o seu “rumo”?
CB – Verdade (risos!) até certo ponto, a não ser as pessoas que participam de concurso de cinzas que estão focadas em mante-las, mas que acaba tirando o prazer do momento de apreciar o charuto, para mim no caso, a cinza deve estar lá até que ela mesma decida partir, quando percebemos este momento podemos ajuda-la fazendo um movimento delicado ( e não batendo o charuto e nem sacudindo!) para que ela se liberte! Acontece que as vezes a companhia é tão boa que quando nos damos conta a cinza já partiu, caindo sobre a nossa roupa ou pelo chão rsrs faz parte!
FA – O Espaço Baltoro – que foi palco de encontro com DiogenesPuentes tem umas prateleiras convidativas 🙂 os charutos são um convite a um esquecer das horas?
CB – Sim, a primeira regra do charuto é não ter pressa! Aquele momento é seu, para mim funciona como uma terapia, um momento de reflexão se estou sozinha e um momento de interação produtiva, quando acompanhada. Uma maneira de dar valor ao tempo, o charuto de proporciona esta janela para o nosso interior, falo por mim claro!
FA – Podemos encarnar no espírito de Romeu & Julieta quando o saboreamos com uma pessoa especial?
CB – Ahh não vá por aí amigo que esta história acabou mal (risos!), mas sim tem outro valor se saboreado com uma pessoa especial, acho que podemos recriar a nossa própria versão de Romeu & Julieta!
FA – O “Montecristo” continua a ser um dos charutos mais apreciados no mercado? Que características não dispensas num cubano?
CB – Sim, o Montecristo é umas das grandes referencias de charutos cubanos, não sei te reponder com exatidão às questões mercadológicas, mas segue sendo um dos principais sem dúvida pela qualidade e tradição. Agora falando das características, não só no tabaco cubano mas os de todas as procedências inclusive do Brasil, que produz charutos maravilhosos, o que procuro sobretudo é sabor e aroma, a potência é relativa pois para mim depende do momento que irei degustar e de qual será a harmonização para determinar o quão potente ele deve ser.
FA – Ir a Cuba e não fumar um Cohiba é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa?
CB – Olha eu não me atreveria a visitar Roma e não ver o papa e ir a Cuba e não fumar um Cohiba, é igual a ir ao Porto e não beber nenhum Vinho do Porto, faz parte do cotexto histórico essa harmonização!
FA – Bem, Caliandra, estamos a chegar ao fim da nossa conversa. Que vinho escolhes para a partida?
CB – Ahh foi um enorme prazer, compartilhar um pouquinho da minha história com você, foi emocionante reviver em minha memória os momentos que descrevi aqui. Acho que para nos despedirmos, podemos brindar com um vinho do Porto Vintage, para que a nossa conversa fique eternizado não só pelas palavras ditas mas também pelo paladar com o gosto deste vinho excelente.
FA – FA – “Meu bem, sempre que ouvires um lamento / Crescer, desolador, na voz do vento, sou eu em solidão pensando em ti, chorando todo o tempo que perdi…” termina assim Vinícius – e espero que ele não se importe que eu mude o título… tens saudade de Portugal no Brasil?
CB – A saudade é grande sim, quase 6 anos de muito crescimento e aprendizados, Portugal faz parte de mim e da minha história, serei sempre grata por todas as experiencias que vivi ali e pelos amigos que fiz! Mas algo me diz que essa história ainda não terminou e que terei mais capítulos para escrever em terras Lusas… quem sabe?!
Ao dia onze de Maio abre em Portugal mais uma casa Bertrand, e desta vez, na rainha da Costa Verde em pleno centro da cidade um recanto de literatura. Foi uma agradável surpresa há pouco tempo (nos começos da quarentena) ver uma publicação de um amigo com o painel de letras brancas sob um fundo negro na característica calçada da rua 19. É um marco para a cidade, para o concelho e para as áreas limítrofes que assim já não precisam de se deslocar aos centros comerciais das cidades de Vila Nova de Gaia e Porto para assistir a uma apresentação de um livro, ver as novidades e viajar – e é mesmo isso que estamos a precisar.
Devido à situação de Covid – 19, a entrada de clientes está limitada a sete pessoas, e à entrada um boião de gel desinfectante, e foi como se voltássemos a uma casa, encontrámos gente amiga entre as quais Major Nunes da Silva – Presidente da Associação Comercial Viver Espinho. A loja tem muita luz natural e a sua localização não podia ser mais central, está a poucos passos do posto de correios CTT, do Município e dos bancos. A equipa de trabalho é simpática, disponível para esclarecer e ajudar.
Até ao próximo dia 16, (de segunda a sábado), os clientes com cartão Bertrand têm desconto de 20 a 50%, e as novidades com 10%.
Para os aficionados da poesia, tem uma excelente oferta, de Sophia de Mello Breyner a Ruy Belo, passando por Ramos Rosa. Semanalmente haverá um livro (novidade) nas caixas e os sacos reutilizáveis estão por um preço simbólico e são giros, com frases inspiradoras, de Fernando Pessoa.
Nasceu em 1986, na cidade da Maia, romântica, perfeccionista, apaixonada pela natureza e naturalmente pelos livros. Formada em Engenharia Eletrotécnica e Marketing, trouxe ao mundo aos trinta e três anos o “Esquece Quem Eu Sou”. Não a quisemos esquecer e foi com sabor a café e vista sobre o mar que se desenrolou a agradável conversa que agora disponibilizamos. Somos vizinhos e praticamente desconhecíamos, mas há algo que nos une: a criação do zero de uma personagem Rita e de um Ian que prometem fazer sonhar. É apaixonada pela cidade do Porto, fã de Miguel Araújo e quer virar a página na oferta literária “com bolinha vermelha” em Portugal. Sem mais demora, para o Sílabas & Silêncio a primeira conversa de 2020!
(Francisco Azevedo/FA) – Catarina, obrigado teres aceite esta conversa. Se o dia oito de fevereiro fosse um perfume, que aroma teria?
Catarina Gomes (CG) – Frésias.
FA – Deste vida à Rita e ao Ian. Como começou esta viagem literária?
CG – Esta viagem começou em outubro de 2017, num dia comum de férias de Outono em que não havia nada de interessante para fazer. Tinha acabado de ler uma série de romances eróticos ou New Adult, já que eram todos traduzidos, e fui à procura do mesmo estilo escrito em português. Não encontrei nada e não percebia porque é que ninguém escrevia nesse estilo. Então, pus-me a folhear os livros que tinha lido, pensando: “isto são cerca de 300 páginas, não é assim tanto… Ok, eu sou capaz”. Foi assim que nasceu o meu primeiro livro, da vontade de ler mais, e criei esta história para mim, para eu ler. E da vontade de representar um género literário que, em Portugal, é totalmente dominado por autoras americanas e do Reino Unido. Já não escrevia desde a adolescência, a não ser conteúdos científicos!
FA – Recentemente, no Facebook partilhaste um poema – um intemporal de Fernando Pessoa. O amor, para ti é “fogo que arde sem se ver…”?
CG – Quem me dera conseguir pegar nesse poema e reescrevê-lo, sob a minha interpretação. É algo que arde sem se ver, sim, mas não um fogo… é algo mais lento, mais ponderado.
FA – Barbara Walter diz que uma boa pergunta é aquela que a nossa mãe nos ensinou a nunca fazer. Que boa pergunta fizeste hoje? Ou nos últimos dias? Tens sempre resposta para uma pergunta que não gostasses que te fizessem?
CG – Na realidade, não há perguntas desconfortáveis para mim. Além disso, sou demasiado impulsiva, para ter uma resposta treinada.
FA – Determinação e ambição são características da Rita. Em que momentos te revês na personagem principal?
CG – Em todos! Mas, enquanto a Rita é determinada, eu diria que posso ser um pouco “obstinada”, para meu próprio mal.
FA – A Rua de Sá da Bandeira e a “Dama de Copas” têm mais valor para ti desde o dia oito?
CG – Sem dúvida! Tenho um carinho enorme pela Dama de Copas, pelas pessoas que lá trabalham e pela Inês Basek, Margarida Furst e João Coimbra. O dia 8, em Sá da Bandeira (Porto) e o dia 14, em Santa Justa (Lisboa), foram apenas mais um passo que demos juntos, numa jornada onde sinto que eles estão sempre ao meu lado.
FA – As viagens são cruciais para depois no sossego do lar criar uma personagem e viajar por outros mundos?
CG – “Esquece Quem Eu Sou”, baseia-se muito nas minhas vivências na cidade do Porto, aos dias de hoje. Mas, sim, novos lugares ajudam imenso a criar novas personagens e interação entre elas, nesses mesmos locais.
FA – Um romance que “… possui todos os ingredientes para nos envolver…”? Que traços da Rita transportas de forma inconsciente para o teu dia-a-dia?
CG – A sua determinação e perseverança, indubitavelmente. E, aproveito a pergunta para abordar outro tema. A Rita é muito segura, não tem medo de perseguir os seus sonhos, não tem vergonha de dizer o que sente, nem de si mesma. De certa forma, julgo que a maioria dos romances ainda apontam uma mulher insegura e dependente do amor de um homem ou de outra mulher para se afirmar. A Rita não é nada disso! E, subtilmente, quis passar, precisamente, essa mensagem. Todas as mulheres têm direito ao amor, independentemente do seu aspecto físico, da sua profissão, das suas ambições, etc… Acho que é esse o ingrediente que nos envolve. A mulher moderna irá rever-se na Rita; a mulher “antiquada”, quererá ser como ela.
FA – Que livro “com bolinha vermelha” mexeu mais contigo?
CG – Curiosamente, um que tem “bolinha vermelha” literal na capa, mas que não chega aos calcanhares de vários que li que não têm essa marca visível, mas que mereciam. Chama-se “Confia em mim”, de Jennifer Armentrout, uma autora que, na minha opinião, escreve sempre bem, independentemente do estilo.
FA – Em “Todo o azul do mar” há uma passagem que diz “… Foi assim, como ver o mar. A primeira vez que os meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção de me apaixonar. Mera distração e já era tempo de se gostar…”. É indissociável o mar do amor?
CG – Esse poema é lindo (olhinhos com corações). Apesar de gostar de alguma poesia, não sou nada poética, pelo contrário, sou muito literal. Portanto, não vejo qualquer relação entre ambos. As pessoas adoram exprimir o amor sob a forma de coisas belas, como o mar, o céu, o universo… sempre em escalas megalómanas! Apesar de adorar a natureza, prefiro descrevê-los através de bens terrenos e vulgares, como “gelatina”, “meias quentes”.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo. Quantos livros tens em casa?
CG – Espera, vou contar! Impressos, 89. O meu problema é não ter uma estante, tenho-os espalhados pela casa.
FA – Passando agora um bocadinho pela arte & ofício da escrita. Preferes o silêncio ou a mesma música?
CG – Silêncio!
FA – Assusta uma página em branco?
CG – Nada! Quer apenas dizer que é hora de começar a escrever!
FA – Criar uma obra do zero nunca é fácil. Que processo não prescindes / levaste em conta para o “Esquece Quem Eu Sou”?
CG – Vou batizar, agora mesmo, um processo de escrita. Chama-se o “processo do prazer puro” de viver noutra casa, noutra cidade, com outras pessoas, frequentar outros lugares.
FA – Foram quantos meses de escrita?
CG – Estás-me a envergonhar, Francisco! Escrita, propriamente dita, e construção da história, cerca de 15 dias com paragem para comer, banho e pouquíssimas horas de sono. Entrei na história de uma maneira que ainda hoje não sei como fui capaz! Depois, precisei de cerca de 1 ano, para limar tudo e dar um fim à história.
FA – A Rita, o Ian, o amor, as incertezas, os cenários… Quanto tempo povoaram a tua cabeça? Já depois do ponto final?
CG – Ainda povoam! 🙂 Adoro aquelas duas personagens, afinal vivi com elas mais de um ano e foram as primeiras.
FA – Não sais de casa sem um livro. Que livro estás a ler? Recomendas?
CG – Estou a ler “O Poder Surpreendente das Ideias Absurdas” e, sim, recomendo, para quem tem receio de sair da caixa, de vez em quando.
FA – As booktubers são muito populares no mercado brasileiro, mas aqui em Portugal há poucas. Quem segues?
CG – Honestamente, nenhuma, ainda. Só há poucas semanas, comecei a dar os primeiros passos no Instagram e conheci algumas bookstagrammers. Penso que ainda temos muito para crescer nesse campo, e, a respeito disso, talvez tenha novidades em breve. 🙂
FA – Se este livro (bonito design da capa!) tivesse uma banda sonora, que dez temas incluirias?
CG – Dez, Francisco!?
– Who are You? – SVRCINA
– Close – Nick Jonas ft. Tove Lo
– Elegy for the arctic – Ludovico Einaudi
– How would you feel – Ed Sheeran
– Antes delas dizer que sim – Bárbara Tinoco
– Tonto de ti – Miguel Araújo
– Hurt for me – SYML
– You – Two Feet
– Fleurie – Breathe
2 Notas
CG – Tenho de aproveitar para dar os parabéns e registar um “Obrigada” ao Gonçalo Cardal Pais, da Emporium Editora, que foi quem desenhou a capa. Não sei o que se passou na cabeça dele, mas é a janela para a história do livro, sem sombra de dúvida, e é a minha cara! Segunda nota: Miguel Araújo, porque o considero um músico e poeta brilhante e porque é da nossa cidade, e que bem que ele a descreve!
FA – Referes no passado dia vinte e um de Fevereiro que “… a melhor parte de escrever um livro é saber que fiz alguém perder a noção do tempo…”. Que sensações um livro precisa de provocar em ti?
CG – Sensação de leveza e despreocupação, sensação de que não existe mais nada à minha volta. Sou só eu e aquelas personagens, num lugar qualquer que estou a visitar pela primeira vez.
FA – Um sonho que gostarias de ver realizado ainda este ano de 2020?
CG – Prefiro falar de objetivos. E, por acaso, prende-se com livros. Espero ver o meu segundo romance terminado, revisto, aprovado pelo meu “grupo privado de pré avaliadoras” e, se correr bem, editado. (Para voltar à Dama de Copas em Fevereiro de 2021).
Aos 20 de Março de 2020 pelas 19h00, o Gabinete de Comando do Corpo de Bombeiros Voluntários do Concelho de Espinho fez chegar à Focal Point Studio um Comunicado a dar conta do empenho dos profissionais e voluntários da Instituição na Antiga Escola da Seara (na Freguesia de Silvalde) para o acolhimento de um grupo de 50 bombeiros e 15 veículos. A medida está prevista no Plano Nacional emanado pela Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil – que determina a preparação de um espaço semelhante em cada município.
Os bombeiros tiveram durante o dia de ontem formação e treino relativamente ao aprontamento de uma tenda climatizada com 60 m2, que foi gentilmente cedida pelo Grupo Milícia – Bens de Segurança e Tecnologias Militares, Lda.
A tenda – uma unidade de climatização e um gerador de grande capacidade, são meios de logística pesada que estão prontos a serem mobilizados com uma prontidão de 12 horas, reforçando os espaços de qualquer instituição do concelho de Espinho em caso de necessidade.
Ambas as situações estão a ser realizadas em estreita articulação com o Serviço Municipal de Protecção Civil e ainda com o apoio da Cruz Vermelha Portuguesa na disponibilização de almofadas, cobertores e lençóis.
Os Bombeiros do Concelho de Espinho ativaram o seu Plano de Contingência no passado dia 10 de Março e ativaram de imediato um Grupo de Crise. Desde então têm sido tomadas várias medidas de prevenção e resposta à pandemia COVID-19.
As imagens foram disponibilizadas no e-mail em epígrafe. A Focal Point Studio endereça sinceros votos de bom trabalho a todos os profissionais que lutam diariamente para a eliminação deste vírus COVID-19.
Poderão aceder ao “filme” do jogo em modo de provas de contacto no nosso Facebook. O Sporting Clube de Espinho garantiu a presença na “Fase dos Primeiros” referentes à segunda divisão do voleibol sénior feminino.
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Francisco Azevedo: francisco.azevedo@focalpoint.pt
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