Variações “à parte” percebi ontem (quinta-feira) o porquê deste filme ter entrado para o TOP nacional de ingressos vendidos. Uma interpretação sublime sobre aquele que foi para muitos um “Avatar” muito além do seu tempo. António nasceu no norte do país, no seio de uma família humilde, trabalhou contra sua própria vontade numa fábrica mas a sua verdadeira paixão era a música. Todo ele era música, mesmo em pequeno aproveitava as romarias da sua pequena localidade e escutava atentamente os sons. Na fábrica de madeiras onde era explorado um dia dizia a sua mãe que queria ir para Lisboa. António era apaixonado pela voz de Amália Rodrigues e as canções que escutava na rádio eram o momento alto, não só dele mas também dos que trabalhavam as madeiras.
António rumou à capital, fez-se aprendiz de babeiro e tentava a sua sorte na música, gravando pequenas maquetes na casa-de-banho pois gostava de ouvir a sua voz com eco. Quem espera que neste filme se retrate tudo aquilo que foi a vida de Variações além música vai ficar aquém das expectativas. Habituado que já estou a filmes portugueses no grande ecrã, o anterior foi “Bad Investigate” no Festival de Cinema de Arouca, este conseguiu-me manter colado ao ecrã da sala do UCI Arrábida (óptima moldura humana na sessão das 21:45), não só pelo ritmo da história mas também magia e simplicidade como criava as suas próprias canções. Não tendo sido ele músico tornava-se um desafio constante encontrar músicos capazes de o entender. A sua voz não passou despercebida a um homem da rádio numa noite na Holanda. António era aos olhos de então um “outsider”, nunca fumou nem nunca bebeu álcool.
Regressa a Portugal uns anos mais tarde para acompanhar a mãe no momento difícil da morte do seu pai. Falou sobre a sua experiência na Holanda e quando a sua mãe perguntou se era feliz ele disse:
– Eu não sei se nasci para ser feliz…
Naquela que seria apenas mais uma noite de boémia e música, António reencontra uma antiga paixão – Fernando (Filipe Duarte) – que deixou sem avisar quando rumou à terra da laranja mecânica. Estava feliz com a sua mulher, Rosa, papel algo “secundário” para uma atriz como Victoria Guerra. Dali surge uma frase que para mim resume a atitude e impacto de António Variações na sociedade portuguesa da altura:
– E quem é que te disse que eu me vou adaptar a Lisboa? Lisboa é que vai ter de se adaptar a mim.
Correu mundos e fundos em busca de músicos até que se cansou de esperar e ter alguns elementos a ver na música um passatempo. António levava a música como uma profissão, a sua forma de vestir, de cantar, de sentir faz mesmo acreditar que existem pessoas deslocadas do tempo. Assinou contrato com editora, gravou um disco do qual não gostava e quis fazer à sua maneira!!! E foi aí que reencontrando uma antiga banda se mostrou ao mundo. Tem decorrentes pesadelos com salas vazias e com Amália Rodrigues na Aula Magna e a frase:
– Agora já posso morrer feliz… – acordando em sobressalto no carro. A doença de António nunca é descrita no filme, o médico diz-lhe que precisa de fazer mais uns exames e que até lá precisa de repouso. António disse que cancelará todos excepto dois. Prometera a Fernando dar um concerto inesquecível na sua nova discoteca “Trumps” e actua perto da sua terra natal com a mãe a assistir.
Morre em Lisboa no regresso ao apartamento e em fundo o som dos beijos e Amália.
O lema do dia das bruxas não devia ser “Diabrura ou travessura” mas antes “solte o javardo que há em si…” ou então “americano por umas horas porcas”… Nunca achei grande piada ao dia das bruxas que fica colado a um dia que por norma escolhemos a indumentária mais bonita ou então para retirar o cheiro a mofo daquele casaco para visitar os nossos que infelizmente já cá não estão.
A cidade de Espinho foi ontem (numa noite em que apetecia tudo menos sair ao frio) visitada por criancinhas vestidas de bruxas e animais das trevas a tocar a campainhas de portas (depois das dezoito é como aqueles números que nos ligam a oferecer um seguro melhor que o que tem agora – mesmo que na altura do telefonema não se tenha – uma falta de respeito) a pedirem doces o que nas semanas seguintes se torna uma óptima fonte de receita para dentistas e dietistas modernos, normalmente miúdas incrivelmente giras que até nós os apaixonados por carnes vermelhas viravamos vegan…
Toda a fonte de açúcar é boa mas transformar a cidade e as portas das casas em autênticas pussilgas já é meio caminho andado para que os pais das criancinhas que correm de rua em rua fiquem com as orelhas a arder por um bom período de tempo.
Foram vários os posts no Facebook e as pessoas que se fingiram de surdas às campainhas para não ter de alimentar mais uma cena A lá American… Tomara que a ida a missa hoje e uma escovagem mais a fundo durante os próximos dias seja suficiente para o pai natal acreditar naquele clássico
“querido pai natal, este ano fui um doce…”
– Vamos ao cinema!?
Essas palavras soam a magia, se calhar da mesma forma que dragão soa um portista dos sete costados. Antes de pensar no que escreveria por aqui em jeito de desabafo, visitei a Wikipédia para chegar à definição de “cinema” e passo a citar:
“… A arte e a técnica de fixar e reproduzir imagens que suscitam impressão de movimento…”.
A única coisa que me impressionou talvez não tenha sido isso mas de ter encontrado uma sala da UCI Arrábida a abarrotar de lugares vazios. Cheguei ao cinema já a atriz principal – loira, imagino que tenha a ver com o Mamma Mia fazer uma homenagem aos ABBA. As pessoas com que me desloco ao cinema depois de uma refeição a tender para o italiana já se encontravam a poucas filas do cimo da sala, não consigo precisar a fila até porque com o filme em andamento a luz é escassa. Não tenho nada contra pipocas, contra o crepitar da Cola comprada na entrada. Ah, uma coisa que descobri hoje: no Arrábida no Cinema só servem cafés aos séniores, por acaso não interessa se é o próprio a tomar ou “… passa a outro”. Bem, já me estou a deslocar do que queria dizer, do que verdadeiramente me suscitou impressão… Pouco depois de me acomodar à cadeira (provavelmente não muito longe do meio da fila) comecei a ouvir vozes, achei que seria do sistema surround mas afinal vinha mesmo da fila de trás. Não sei bem quem era nem me interessa, mas acho que uma sala de cinema deveria ter um código de ética, se não deixam entrar máquinas para filmar e partilhar no submundo da net também não deviam deixar estar ou sequer entrar personagens do género: a pessoa A a comentar o filme com a B que por seu lado tinha as plantas dos pés plantadas na cadeira número três, leia-se (eu estava na um). Como se tal não fosse suficiente estavam os dois convencidos que tinham jeito para as canções, bem… cada um desafinava à sua maneira. Achei que seria da excitação natural de estar a dois numa sala de cinema aconchegados, o problema é que não estavam. Daí até sentir uns pontapés nas costas foi um tiro, ainda nem a primeira música tinha terminado. Para evitar mostrar o meu desagrado sem olhar para trás tossi. A tosse não foi entendida como um sinal que estariam a passar a linha, passei ao ato dois, ainda antes da segunda música. Na minha mente passavam as letras do famoso grupo e eis que se não quando ouço um barulho, era a Cher a entrar de helicóptero. Parecia uma verdadeira Drag Queen. Precisei de puxar pela cabeça antes que puxasse o braço para mandar um aviso à vizinha de cima. A cada música que acabava suspirava, faltava menos uma para que o álbum fosse apresentado. Quando cheguei ao cinema antes de passar por esta novela estava a pensar num filme tranquilo, num drama, numa tragédia, em tudo menos um horror de serão.
Não lhe vi a cara mas vi-lhe a planta dos pés. Se me lembro do mais que tudo dela!? Acho que sim, falava como se não houvesse amanhã. Já a nível do canto, acho que de sexta a oito tenho um contacto que o pode ajudar a ser alguém na música, mas nunca… NUNCA, numa sala de cinema!
Francisco Azevedo
UCI Arrábida
Sala 4
20 de Setembro
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