sarah dhy
Sempre sonhei descobrir a playlist que Chico Buarque tem em casa. Sempre ambicionei saber um bocadinho mais de música para além das canções tradicionais / comerciais. Há não muito tempo atrás, recebi um convite para assistir a um concerto ao início da noite num espaço aprazível e agradável na minha cidade de Espinho. O cartaz convidava a uma bebida quente e a uma dose extra de respeito pelo músico. Qualquer músico (dos verdadeiros, aqueles com M maiúsculo) merece estar num espaço a actuar e o público presente (que escolheu estar naquele espaço àquela hora respeite o seu momento).
O concerto chamar-me-ia para uma introspecção, um recolhimento, um re-acreditar na música. À minha frente, e sem nada mais que uma voz doce e um violão afinado se encontrava Sarah Dhy – nascida na cidade de Vitória da Conquista, localizada no estado da Bahia. Foi criada em Cabo Frio no estado do Rio de Janeiro e mora atualmente em São Pedro da Aldeia – também no Rio de Janeiro. Foi convidada pela LITERARTE (Associação de Escritores e Artistas com Sede no Brasil e sub-sedes em 18 países) para participar de uma antologia infantil com o tema “A Vida no fundo do mar” com lançamentos no Carrossell do Louvre em Paris e no Instituto Camões em Praga – República Checa. Aceitou o convite e participou com a fábula “As aventuras do bebé de smoking”. Logo depois surgiu o convite para cantar no lançamento e preparou um repertório infantil corrente ao tema da antologia.
Em conversa com a presidente da LITERARTE Izabelle Valadares perguntou sobre a possibilidade de agendar concertos em Praga e Paris pois queria aproveitar a oportunidade e trazer para a Europa um repertório que fez em comemoração aos 60 anos da Bossa Nova (2018).
FPS – Sara, bem-vinda! É a segunda vez que atravessamos o Atlântico para conversar. O que de positivo teve esta travessia para ti?
Sarah Dhy – Agradeço o convite carinhoso e agradeço a oportunidade de poder falar de música. A música é vital para mim e quando tenho a oportunidade de cantar e tocar o meu violão vivo intensamente. Cantar em Espinho foi especial porque além de ter sido bem recebida pela Nancy e pelo Nuno senti em casa no 1/2 Litro e depois de ter passado por outros países poder ouvir a língua portuguesa me senti realmente acolhida.
FPS – A vida de músico nem sempre é fácil. Sentes que com este passo deste um novo rumo à carreira?
Sarah – Nunca tive facilidade na vida. Nasci em um país que me desafia sobreviver nele e a criatividade é companheira das minhas experiências na resistência. Acredito em sonhos mas sei que preciso trabalhar para que eu possa realizá-los.
FPS – Sempre quis saber que música é que um brasileiro instruído e atual ouve…
Sarah – O meu país é multi cultural, não consigo responder a essa pergunta.
FPS – És a favor da comercialização musical em plataformas que distribuem (ainda que de forma pouco ortodoxa) os direitos pelos artistas?
Sarah – O mercado fonográfico está mudando muito, me arrisco a dizer que a distribuição das músicas nas plataformas auxilia a carreira do músico independente mas isso não é tudo, o caminho é longo!
FPS – O disco “Meu Om” é um oásis. De quem partiu a ideia de construir algo do zero?
Sarah – Assim que recebi o convite para cantar em Praga e em Paris, logo tive a ideia de gravar um CD autoral para lançar nas minhas apresentações.
FPS – Ainda te recordas do primeiro concerto a solo? Foi na tua cidade?
Sarah – Minha primeira apresentação foi no festival de música da escola Rui Barbosa em Cabo Frio. Participei com a música 04 do álbum Meu “Om”e ganhei o troféu de melhor música. No ano seguinte participei novamente e ganhei em primeiro lugar com (Meu “Om”) e em terceiro com (Antítese).
FPS – Sentes que o lugar onde moras te dá o devido valor ou vives sob aquela nuvem “Só o que vem de fora é que presta…”?
Sarah – Sou cidadã do mundo, não fico onde não me sinto bem e não aceito qualquer coisa. Nunca recebi apoio cultural financeiro do poder público da minha cidade mas sou muito querida pelos fãs que conquistei através da minha arte, recebi a benção do meu padrinho Roberto Menescal e é isso que me faz seguir em frente.
FPS – Aquele momento pós-concerto no domingo no 1/2 Litro foi especial para mim. Há muito tempo que gostava de partilhar um momento inimista com um músico que conhece Tom Jobim, Chico Buarque. Que características um músico precisa de ter para vingar no mundo?
Sarah – Esse momento pós – concerto foi muito especial pra mim. Ter alcançado você com minha arte me fez entender que valeu apena ter atravessado o oceano. Tocar o outro com a nossa arte é a resposta que nós músicos precisamos para continuar. Que possamos fazer o nosso som com entusiasmo independentemente da quantidade de público, sempre terá um ouvido atento mesmo que a timidez insista em esconder uma aproximação, um suspiro ou um olhar de paz receberemos mesmo que seja muito tempo depois.
FPS – Saíres da cidade de Espinho com mais um conjunto de pessoas amigas e um tema para gravar, é altamente positivo? Que esperas de parcerias futuras?
Sarah – O único Espinho que permito ficar em meu coração! Fui bem recebida pela Nancy e Nuno do 1/2 Litro , jantei no restaurante Cantinho 2 maravilhoso ou como diz uma menina que conheci em Espinho o Cantinho 2 é fixe. Tomei um café delicioso na padaria Pingo de mel, visitei algumas escolas , fiquei admirada com o pórtico 25 de abril e sua importância, fui em praças, igrejas ,feira típica da cidade, remei no rio Douro respirei o ar do mar de Espinho. Leonor Trindade Sousa uma grande artista ,talentosa , premiadíssima que me apresentou a incrível Nancy Queiroz proprietária do espaço cultural mais charmoso de Espinho deixo a minha gratidão. Leonor expõe as suas telas no 1/2 Litro. Vida longa para essas amizades que fiz em Espinho e para as parcerias musicais tenho o céu como limite!
FPS – Pegando nas músicas do teu álbum (oito) temas gostaria que nos dissesses:
a) Quem é o teu negro lindo? Na minha música é todo o negro ignorado.
b) Quem é o teu om? É o equilíbrio, a paz que quero encontrar no outro.
c) Antítese? O contrário das coisas e quando fiz essa música eu estava vivendo com uma pessoa muito diferente de mim.
d) O que jamais esquecerás? Era um menino, mas já o esqueci.
e) Quem é a Baronesa de Von Doom? O cognome da mulher invisível do quarto fantástico da editora Marvel Comics. Coloquei na canção a importância de algo poderoso e vital nas nossas vidas mais que por distração ou por outros motivos não valorizamos.
f) O que buscas? A busca é um plano, um projeto ou um objetivo para alcançar!
g) Já alguma vez viste o eclipse de guitarra em punho? Sim. Essa canção nasceu no eclipse lunar fiz para homenagear o meu falecido avô.
h) Quem te pode sentir? Quem tiver sensibilidade de ouvir minhas canções.
FPS – Se Portugal tem uma banda sonora, que tema incluirias?
Sarah – Uma canção de Tom Jobim: Corcovado.
fotografia ©️ Ronaldo Miranda Fialho
A Focal Point - Fotografia chegou ao mercado emergente da cobertura de eventos no ano de 2012 no mês de agosto, ao primeiro dia.