A primeira vez que me arrepiei com uma voz particularmente feminina e doce foi prenda de um grande amigo há uns anos largos, quando me ofereceu um dvd ao vivo de Katie Melua. Passados estes meses de intoxicação na música e sobretudo nas rádios, oiço com redobrada atenção e emoção os primeiros acordes de Joana Almeirante no Festival Internacional de Música de Paços de Brandão. A voz soa entre o doce e poderosa, muito por influência dos verdadeiros mestres da música que não dispensa – o jazz – e em tom de brincadeira ao apresentar o convidado (já lá vamos) que todos gostavam de “música normal”.
Quem acompanha a música portuguesa e o sucessor de Carlos Tê – Miguel Araújo já ouviu falar da Joana. Além de bom gosto musical e formação na área do jazz, tem um feeling para escrever letras de amor. Numa sala bem composta por familiares, amigos e fãs, Joana surge com um vestido que lhe assenta na perfeição e de sapatilhas clássicas bem escolhidas para a ocasião, tímida mas confiante a cada passo até à cadeira onde se senta do princípio ao fim.
“Inês” foi o pontapé de saída para uma noite que se se tivesse prolongado por mais uma meia-hora ou uma não teria sido exagerado, principalmente quando o som do auditório do CIRAC e o silêncio da plateia intercalava com coro afinado e palmas sentidas no final de cada música. O tema que se seguiu foi uma das canções que mais gostei de ouvir interpretada “Ouvi dizer” dos Ornatos Violeta, banda preferida e fonte de inspiração, aliás foi entre muitas das que ouvi no youtube as que me fariam dar nota 20.
Do repertório feito para o CIRAC, Joana Almeirante alternou entre guitarra acústica – Gretsch, a Fender Telecaster e um Ukelele da Ortega. Marcas e modelos à parte, Joana dá um cunho pessoal nos temas – não só originais mas também nos covers de Miguel Araújo (com quem toca), Carolina Deslandes e Via Faro. Entre dois dedos de conversa com a audiência, surge o primeiro cover de um tema de Miguel Araújo “José” e a aventura dos primeiros passos no jardim.
O tema “Coisa mais bonita que Deus fez” vem no seguimento das suas influências e os acordes no Ukelele soaram seguros e mostraram a polivalência de Joana. Um concerto que teve uma particularidade: noventa e oito porcento de música portuguesa (entre originais e interpretações) e o tema “Bubbly” de Colbie Caillat para fechar o alinhamento antes do “clássico” encore.
“… Mas lembra de um dia te mostrares como és…” são palavras que fazem parte de um original sobre pessoas que vivem numa constante fantasia e as mentiras acabam por lhes “destapar” a máscara. Depois de dissertar sobre o tema, Joana chamou para junto de si – António Cardoso – amigo de longa data para uma “Estrada” sem sobressaltos de Mafalda Veiga e a parte da canção “deste lado é mais puro…” foi o mote para uma “dança” com o público presente, entre sorrisos genuínos da estrela da noite.
Ouvir a Joana falar dos seus originais com honestidade, serenidade e um misto de emoções – às vezes só nós, poetas e autores distinguimos – levaram-me a mais uma viagem por letras escritas por mim entre 2008 e 2016.
A família – como já fora referido – é um pilar seguro da carreira e vida de Joana, os pais são os maiores fãs, fazem quilómetros e levam os vestidos que ela se esquece (sorrisos!) e a irmã que embora goste diz que a música é uma seca. Seguiu-se mais um Cover de Miguel Araújo do primeiro álbum “Baile dos Sem Ninguém” com dedicatória especial ao seu maior fã – Miguel Branco – que tem a voz de Joana como despertador.
A noite lá foi correndo sem sobressaltos nem feedbacks e o seu primeiro original “Minha Margarida” fala sobre alguém que não consegue ficar com a pessoa amada. E antes do regresso de António Cardoso ao palco com duas interpretações de Via “Já não sei quem sou” e “Não sou feita de ferro”, Joana leva-nos por mais uma viagem à boa música portuguesa com “Problema de expressão” dos Clã, o tema que “…descobri que até cantava umas coisas fixes…”.
O original “Dia mau” que se seguiu tem uma semana de existência e retrata alguém que perdeu o sentido da vida e o desejo de não continuar vivo embora uma voz interior o force a acreditar que ficará tudo bem. Seguiu-se “Sete passos” de Miguel Araújo tema que tocou numa gala do curso na JORBA.
Com 14 anos ouviu o tema de Colbie Caillat e recentemente na rádio, chegou a casa e foi encontrar os acordes, um momento acústico e uma bonita pronúncia da língua inglesa.
Despediu-se do público com um sorriso e um aceno de mão, subiu as escadas e voltou para uma última canção “Será amor” de Miguel Araújo pedindo uma ajuda ao público acusando já um cansaço na voz.
Da parte de todos os que lá estiveram, foi uma noite certamente para mais tarde recordar. Podem acompanhar a carreira da Joana no seu facebook em:
https://www.facebook.com/joanalmeirante/
Texto e Fotografias:
Francisco Azevedo
Cati Freitas nasceu em Braga e traduz em tudo o que faz com as características de uma mulher do norte. Em 2003 abraçou a música na televisão ao participar na segunda edição do “Operação Triunfo”.
Na cidade dos arcebispos foi onde iniciou o percurso musical, tendo depois apostado em formação de canto no Porto, e como o mundo é pequeno, em conversa com a sua professora descobriu que o filho trabalhava com o produtor Tiago Costa – com quem viria a gravar o seu primeiro álbum “Dentro”, gravado entre Brasil e Portugal entre 2011 e 2012.
Antes, já havia participado em projetos musicais com nomes como Rui Veloso, Sara Tavares ou Expensive Soul. Claramente influenciada pela biblioteca e cultura MPB, pop e o cada vez mais apreciado Jazz, Cati Freitas não quis deixar acabar o ano de 2018 sem lançar o segundo álbum, desta vez com dez temas da sua autoria, o álbum fecha com “Perdidamente” de Florbela Espanca. Entre concertos de promoção de norte a sul, Cati encontrou uns minutos para uma troca de ideias e emoções sobre palavras do “Estrangeira”.
Francisco Azevedo – “…Quem serei eu afinal, se o fado triste não me encontrou? Serei eu uma estrangeira ou, simplesmente, quem eu sou?…”. Em que momentos Cati, te sentes estrangeira?
Cati Freitas – No momento em que o meu primeiro disco não foi colocado na Música Portuguesa. À parte disso, nunca me senti Estrangeira, muito pelo contrário.
2) FA – Se um beija-flor vem ao teu encontro, que momentos reservas só para ti no teu quarto?
CF – Os da escrita, da criação e da assimilação da vida.
3) FA – “… Falo com Deus, para beber água pura, e matar minha sede, no que a alma procura…”. Foi possível neste álbum encontrar respostas a questões em suspenso?
CF – Sim, o processo de composição deste disco foi claramente, além do desafio da experiência artística das onze canções que o constituem enquanto cantora e compositora, um processo minucioso de construção e desconstrução interior. Existencial.
4) FA – Percebe-se quando os teus olhos dizem não?
CF – Sim.
5) FA – A saudade atenua-se num sonho?
CF – Por vezes sim. Por vezes é mesmo a única maneira de nos sentirmos mais perto de quem amamos.
6) FA – Que importância tem a natureza numa arte como a composição?
CF – A de nos levar a escutar.
7) FA – Uma história que merece ser lida em silêncio…
CF – A de um grande amor.
8) FA – Minhota de gema. Que características não passam despercebidas na personalidade e na música?
CF – Força de expressão, fé, elegância e tradição.
9) FA – A solidão também pode ser doce?
CF – Sim. Mas isso exige que não tenhamos desistido de nós mesmos e nem dos outros.
10) FA – Se existir um retrato do sentimento, seria a cores ou a preto e branco?
CF – A cores.
11) FA – Vivemos num país com uma palavra intraduzível: Saudade. Que importância têm as palavras de Florbela Espanca no teu percurso?
CF – A de se ter sede de infinito.
O trabalho da Cati Freitas pode ser encontrado nas plataformas digitais e nos locais habituais.
https://itunes.apple.com/pt/album/estrangeira/1440148971
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