Nasceu em 1986, na cidade da Maia, romântica, perfeccionista, apaixonada pela natureza e naturalmente pelos livros. Formada em Engenharia Eletrotécnica e Marketing, trouxe ao mundo aos trinta e três anos o “Esquece Quem Eu Sou”. Não a quisemos esquecer e foi com sabor a café e vista sobre o mar que se desenrolou a agradável conversa que agora disponibilizamos. Somos vizinhos e praticamente desconhecíamos, mas há algo que nos une: a criação do zero de uma personagem Rita e de um Ian que prometem fazer sonhar. É apaixonada pela cidade do Porto, fã de Miguel Araújo e quer virar a página na oferta literária “com bolinha vermelha” em Portugal. Sem mais demora, para o Sílabas & Silêncio a primeira conversa de 2020!
(Francisco Azevedo/FA) – Catarina, obrigado teres aceite esta conversa. Se o dia oito de fevereiro fosse um perfume, que aroma teria?
Catarina Gomes (CG) – Frésias.
FA – Deste vida à Rita e ao Ian. Como começou esta viagem literária?
CG – Esta viagem começou em outubro de 2017, num dia comum de férias de Outono em que não havia nada de interessante para fazer. Tinha acabado de ler uma série de romances eróticos ou New Adult, já que eram todos traduzidos, e fui à procura do mesmo estilo escrito em português. Não encontrei nada e não percebia porque é que ninguém escrevia nesse estilo. Então, pus-me a folhear os livros que tinha lido, pensando: “isto são cerca de 300 páginas, não é assim tanto… Ok, eu sou capaz”. Foi assim que nasceu o meu primeiro livro, da vontade de ler mais, e criei esta história para mim, para eu ler. E da vontade de representar um género literário que, em Portugal, é totalmente dominado por autoras americanas e do Reino Unido. Já não escrevia desde a adolescência, a não ser conteúdos científicos!
FA – Recentemente, no Facebook partilhaste um poema – um intemporal de Fernando Pessoa. O amor, para ti é “fogo que arde sem se ver…”?
CG – Quem me dera conseguir pegar nesse poema e reescrevê-lo, sob a minha interpretação. É algo que arde sem se ver, sim, mas não um fogo… é algo mais lento, mais ponderado.
FA – Barbara Walter diz que uma boa pergunta é aquela que a nossa mãe nos ensinou a nunca fazer. Que boa pergunta fizeste hoje? Ou nos últimos dias? Tens sempre resposta para uma pergunta que não gostasses que te fizessem?
CG – Na realidade, não há perguntas desconfortáveis para mim. Além disso, sou demasiado impulsiva, para ter uma resposta treinada.
FA – Determinação e ambição são características da Rita. Em que momentos te revês na personagem principal?
CG – Em todos! Mas, enquanto a Rita é determinada, eu diria que posso ser um pouco “obstinada”, para meu próprio mal.
FA – A Rua de Sá da Bandeira e a “Dama de Copas” têm mais valor para ti desde o dia oito?
CG – Sem dúvida! Tenho um carinho enorme pela Dama de Copas, pelas pessoas que lá trabalham e pela Inês Basek, Margarida Furst e João Coimbra. O dia 8, em Sá da Bandeira (Porto) e o dia 14, em Santa Justa (Lisboa), foram apenas mais um passo que demos juntos, numa jornada onde sinto que eles estão sempre ao meu lado.
FA – As viagens são cruciais para depois no sossego do lar criar uma personagem e viajar por outros mundos?
CG – “Esquece Quem Eu Sou”, baseia-se muito nas minhas vivências na cidade do Porto, aos dias de hoje. Mas, sim, novos lugares ajudam imenso a criar novas personagens e interação entre elas, nesses mesmos locais.
FA – Um romance que “… possui todos os ingredientes para nos envolver…”? Que traços da Rita transportas de forma inconsciente para o teu dia-a-dia?
CG – A sua determinação e perseverança, indubitavelmente. E, aproveito a pergunta para abordar outro tema. A Rita é muito segura, não tem medo de perseguir os seus sonhos, não tem vergonha de dizer o que sente, nem de si mesma. De certa forma, julgo que a maioria dos romances ainda apontam uma mulher insegura e dependente do amor de um homem ou de outra mulher para se afirmar. A Rita não é nada disso! E, subtilmente, quis passar, precisamente, essa mensagem. Todas as mulheres têm direito ao amor, independentemente do seu aspecto físico, da sua profissão, das suas ambições, etc… Acho que é esse o ingrediente que nos envolve. A mulher moderna irá rever-se na Rita; a mulher “antiquada”, quererá ser como ela.
FA – Que livro “com bolinha vermelha” mexeu mais contigo?
CG – Curiosamente, um que tem “bolinha vermelha” literal na capa, mas que não chega aos calcanhares de vários que li que não têm essa marca visível, mas que mereciam. Chama-se “Confia em mim”, de Jennifer Armentrout, uma autora que, na minha opinião, escreve sempre bem, independentemente do estilo.
FA – Em “Todo o azul do mar” há uma passagem que diz “… Foi assim, como ver o mar. A primeira vez que os meus olhos se viram no seu olhar. Não tive a intenção de me apaixonar. Mera distração e já era tempo de se gostar…”. É indissociável o mar do amor?
CG – Esse poema é lindo (olhinhos com corações). Apesar de gostar de alguma poesia, não sou nada poética, pelo contrário, sou muito literal. Portanto, não vejo qualquer relação entre ambos. As pessoas adoram exprimir o amor sob a forma de coisas belas, como o mar, o céu, o universo… sempre em escalas megalómanas! Apesar de adorar a natureza, prefiro descrevê-los através de bens terrenos e vulgares, como “gelatina”, “meias quentes”.
FA – Apaixonada pelas letras desde cedo. Quantos livros tens em casa?
CG – Espera, vou contar! Impressos, 89. O meu problema é não ter uma estante, tenho-os espalhados pela casa.
FA – Passando agora um bocadinho pela arte & ofício da escrita. Preferes o silêncio ou a mesma música?
CG – Silêncio!
FA – Assusta uma página em branco?
CG – Nada! Quer apenas dizer que é hora de começar a escrever!
FA – Criar uma obra do zero nunca é fácil. Que processo não prescindes / levaste em conta para o “Esquece Quem Eu Sou”?
CG – Vou batizar, agora mesmo, um processo de escrita. Chama-se o “processo do prazer puro” de viver noutra casa, noutra cidade, com outras pessoas, frequentar outros lugares.
FA – Foram quantos meses de escrita?
CG – Estás-me a envergonhar, Francisco! Escrita, propriamente dita, e construção da história, cerca de 15 dias com paragem para comer, banho e pouquíssimas horas de sono. Entrei na história de uma maneira que ainda hoje não sei como fui capaz! Depois, precisei de cerca de 1 ano, para limar tudo e dar um fim à história.
FA – A Rita, o Ian, o amor, as incertezas, os cenários… Quanto tempo povoaram a tua cabeça? Já depois do ponto final?
CG – Ainda povoam! 🙂 Adoro aquelas duas personagens, afinal vivi com elas mais de um ano e foram as primeiras.
FA – Não sais de casa sem um livro. Que livro estás a ler? Recomendas?
CG – Estou a ler “O Poder Surpreendente das Ideias Absurdas” e, sim, recomendo, para quem tem receio de sair da caixa, de vez em quando.
FA – As booktubers são muito populares no mercado brasileiro, mas aqui em Portugal há poucas. Quem segues?
CG – Honestamente, nenhuma, ainda. Só há poucas semanas, comecei a dar os primeiros passos no Instagram e conheci algumas bookstagrammers. Penso que ainda temos muito para crescer nesse campo, e, a respeito disso, talvez tenha novidades em breve. 🙂
FA – Se este livro (bonito design da capa!) tivesse uma banda sonora, que dez temas incluirias?
CG – Dez, Francisco!?
– Who are You? – SVRCINA
– Close – Nick Jonas ft. Tove Lo
– Elegy for the arctic – Ludovico Einaudi
– How would you feel – Ed Sheeran
– Antes delas dizer que sim – Bárbara Tinoco
– Tonto de ti – Miguel Araújo
– Hurt for me – SYML
– You – Two Feet
– Fleurie – Breathe
2 Notas
CG – Tenho de aproveitar para dar os parabéns e registar um “Obrigada” ao Gonçalo Cardal Pais, da Emporium Editora, que foi quem desenhou a capa. Não sei o que se passou na cabeça dele, mas é a janela para a história do livro, sem sombra de dúvida, e é a minha cara! Segunda nota: Miguel Araújo, porque o considero um músico e poeta brilhante e porque é da nossa cidade, e que bem que ele a descreve!
FA – Referes no passado dia vinte e um de Fevereiro que “… a melhor parte de escrever um livro é saber que fiz alguém perder a noção do tempo…”. Que sensações um livro precisa de provocar em ti?
CG – Sensação de leveza e despreocupação, sensação de que não existe mais nada à minha volta. Sou só eu e aquelas personagens, num lugar qualquer que estou a visitar pela primeira vez.
FA – Um sonho que gostarias de ver realizado ainda este ano de 2020?
CG – Prefiro falar de objetivos. E, por acaso, prende-se com livros. Espero ver o meu segundo romance terminado, revisto, aprovado pelo meu “grupo privado de pré avaliadoras” e, se correr bem, editado. (Para voltar à Dama de Copas em Fevereiro de 2021).
A primeira vez que me arrepiei com uma voz particularmente feminina e doce foi prenda de um grande amigo há uns anos largos, quando me ofereceu um dvd ao vivo de Katie Melua. Passados estes meses de intoxicação na música e sobretudo nas rádios, oiço com redobrada atenção e emoção os primeiros acordes de Joana Almeirante no Festival Internacional de Música de Paços de Brandão. A voz soa entre o doce e poderosa, muito por influência dos verdadeiros mestres da música que não dispensa – o jazz – e em tom de brincadeira ao apresentar o convidado (já lá vamos) que todos gostavam de “música normal”.
Quem acompanha a música portuguesa e o sucessor de Carlos Tê – Miguel Araújo já ouviu falar da Joana. Além de bom gosto musical e formação na área do jazz, tem um feeling para escrever letras de amor. Numa sala bem composta por familiares, amigos e fãs, Joana surge com um vestido que lhe assenta na perfeição e de sapatilhas clássicas bem escolhidas para a ocasião, tímida mas confiante a cada passo até à cadeira onde se senta do princípio ao fim.
“Inês” foi o pontapé de saída para uma noite que se se tivesse prolongado por mais uma meia-hora ou uma não teria sido exagerado, principalmente quando o som do auditório do CIRAC e o silêncio da plateia intercalava com coro afinado e palmas sentidas no final de cada música. O tema que se seguiu foi uma das canções que mais gostei de ouvir interpretada “Ouvi dizer” dos Ornatos Violeta, banda preferida e fonte de inspiração, aliás foi entre muitas das que ouvi no youtube as que me fariam dar nota 20.
Do repertório feito para o CIRAC, Joana Almeirante alternou entre guitarra acústica – Gretsch, a Fender Telecaster e um Ukelele da Ortega. Marcas e modelos à parte, Joana dá um cunho pessoal nos temas – não só originais mas também nos covers de Miguel Araújo (com quem toca), Carolina Deslandes e Via Faro. Entre dois dedos de conversa com a audiência, surge o primeiro cover de um tema de Miguel Araújo “José” e a aventura dos primeiros passos no jardim.
O tema “Coisa mais bonita que Deus fez” vem no seguimento das suas influências e os acordes no Ukelele soaram seguros e mostraram a polivalência de Joana. Um concerto que teve uma particularidade: noventa e oito porcento de música portuguesa (entre originais e interpretações) e o tema “Bubbly” de Colbie Caillat para fechar o alinhamento antes do “clássico” encore.
“… Mas lembra de um dia te mostrares como és…” são palavras que fazem parte de um original sobre pessoas que vivem numa constante fantasia e as mentiras acabam por lhes “destapar” a máscara. Depois de dissertar sobre o tema, Joana chamou para junto de si – António Cardoso – amigo de longa data para uma “Estrada” sem sobressaltos de Mafalda Veiga e a parte da canção “deste lado é mais puro…” foi o mote para uma “dança” com o público presente, entre sorrisos genuínos da estrela da noite.
Ouvir a Joana falar dos seus originais com honestidade, serenidade e um misto de emoções – às vezes só nós, poetas e autores distinguimos – levaram-me a mais uma viagem por letras escritas por mim entre 2008 e 2016.
A família – como já fora referido – é um pilar seguro da carreira e vida de Joana, os pais são os maiores fãs, fazem quilómetros e levam os vestidos que ela se esquece (sorrisos!) e a irmã que embora goste diz que a música é uma seca. Seguiu-se mais um Cover de Miguel Araújo do primeiro álbum “Baile dos Sem Ninguém” com dedicatória especial ao seu maior fã – Miguel Branco – que tem a voz de Joana como despertador.
A noite lá foi correndo sem sobressaltos nem feedbacks e o seu primeiro original “Minha Margarida” fala sobre alguém que não consegue ficar com a pessoa amada. E antes do regresso de António Cardoso ao palco com duas interpretações de Via “Já não sei quem sou” e “Não sou feita de ferro”, Joana leva-nos por mais uma viagem à boa música portuguesa com “Problema de expressão” dos Clã, o tema que “…descobri que até cantava umas coisas fixes…”.
O original “Dia mau” que se seguiu tem uma semana de existência e retrata alguém que perdeu o sentido da vida e o desejo de não continuar vivo embora uma voz interior o force a acreditar que ficará tudo bem. Seguiu-se “Sete passos” de Miguel Araújo tema que tocou numa gala do curso na JORBA.
Com 14 anos ouviu o tema de Colbie Caillat e recentemente na rádio, chegou a casa e foi encontrar os acordes, um momento acústico e uma bonita pronúncia da língua inglesa.
Despediu-se do público com um sorriso e um aceno de mão, subiu as escadas e voltou para uma última canção “Será amor” de Miguel Araújo pedindo uma ajuda ao público acusando já um cansaço na voz.
Da parte de todos os que lá estiveram, foi uma noite certamente para mais tarde recordar. Podem acompanhar a carreira da Joana no seu facebook em:
https://www.facebook.com/joanalmeirante/
Texto e Fotografias:
Francisco Azevedo
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Francisco Azevedo: francisco.azevedo@focalpoint.pt
Pedro Fonseca: pedro.fonseca@focalpoint.pt