Nunca senti peso e nenhum tipo de pressão por causa do meu apelido. Mas sabes o que senti e ainda sinto todos os dias? Um orgulho imenso. Isto porque o meu tio, o meu avô e o meu pai sempre me acarinharam bastante e nunca me fizeram sentir que tinha algo a provar. Se eu conseguir fazer um vigésimo do que eles fizeram no desporto para mim é motivo de orgulho. Cresci a ouvir mil e uma vezes as histórias do meu tio e do meu avô que me faziam sentir como se estivesse a ver o meu avô a jogar ou a liderar como treinador a equipa do FCP ao tricampeonato ou a tornar o Vitor Hugo no melhor de sempre (ele tinha um carinho enorme pelo Vitor, como se fosse mais um filho para ele). Ainda tive a sorte de ver o meu pai jogar e de ouvir também as histórias de alguns momentos que o marcaram, e o mais bonito deles foi a época de campeão nacional pela AAE. Dá para sentir todo a carinho e amizade que ele tinha por essa equipa. Por isso Francisco, pressão nunca, orgulho constante!
Sempre. A primeira vez que entrei num pavilhão foi com o meu avô na AAE. Ensinou-me a andar de patins quase antes de saber andar. Podia ter sido jogadora de hóquei, mas a minha mãe trocou as ideias ao meu avô. Aos sete anos o meu pai incentivou-me a começar a jogar voleibol e a partir daí nunca mais larguei o desporto. Acho que já nem consigo imaginar como teria sido a minha vida sem desporto, sem os treinos ao final do dia, sem os jogos e viagens de autocarro nos fins de semana, sem as emoções do “balneário”, sem a equipa.
Acho que tentei ser aplicada em todas disciplinas. Não percebo porquê, mas português era a disciplina que menos gostava. Sempre fui apaixonada pela matemática e pela física. Adorava e adoro números. Penso que este carinho pelos números ditou em parte a minha escolha pelo curso de engenharia mecânica na FEUP.
Francisco, não sei se sabes, ou pelo menos já ouviste dizer, o balneário de uma equipa feminina é um furacão de emoções (acho que todas as minhas antigas colegas de equipa vão concordar com isto!). Quando no início de uma época alguém disser que vai ser tudo tranquilo, ignora, é uma grande mentira! Nos últimos 5/6 anos tive a oportunidade de ser capitã de equipa e tive a responsabilidade de tentar ser um exemplo para as minhas colegas. Numa equipa todas são diferentes, cada uma tem mil problemas e encara-os de forma completamente diferente. O meu grande desafio foi saber lidar com todas elas e de maneiras totalmente diferentes. Fez-me crescer bastante e fez-me ser uma pessoa mais sensata, tranquila e desenrascada. O saber lidar com problemas diferentes e escolhas difíceis é o meu dia a dia profissional como engenheira de produção. Toda a gestão que tinha de fazer no balneário é semelhante aos meus desafios profissionais diários.
Voltando à primeira pergunta, senti orgulho! Eu sei que a maioria das pessoas conheceu o meu avô como um grande Homem e atleta. Eu tive a oportunidade de conhecer uma outra versão dele. O meu Vô. A pessoa que mais gostava de mim neste mundo. A pessoa que fazia tudo por mim. A pessoa que só me queria ver feliz. Devo ter sido das únicas pessoas com quem ele nunca gritou dentro do ringue de hóquei da AAE. Eu tive acesso a um Vladimiro Brandão que mais ninguém conheceu, acho que nem mesmo a minha mãe nem o meu tio. Por isso, na maioria das vezes, eu olhava para ele apenas como o meu avô e não como um dos maiores atletas da nossa cidade. Lembro-me bem dessa homenagem na Nave. Foi um dos momentos que me fez cair a ficha, fez-me realmente perceber a magnitude dele. Milhares de pessoas de pé a bater palmas ao meu avô. Arrepio-me só de me lembrar!
Até me fazes sentir velha (sorrisos!). Calma que ainda tenho mais dois anos e meio até entrar nos 30! Gostava de poder ter viajado muito, mas muito mais. Viajar foi uma das coisas que ainda não tive a possibilidade de fazer tanto como gostaria. Conhecer o mundo, diferentes culturas, diferentes paisagens. Abdiquei muitas vezes de viajar em prol do voleibol, mas, em princípio, esta vai ser a minha última época por isso já não tenho desculpa para não marcar viagens. Tenho cinco viagens que gostava de fazer nos próximos anos: Rio de Janeiro, Ibiza (com as amigas), Nova Iorque, percorrer parte da Indonésia e um mochilão na América Latina. Agora só falta marcar.
Acho que na altura ainda não tínhamos bem noção do impacto que esta pandemia iria ter. Para mim foi difícil mudar a rotina a que estava habituada há quase 20 anos – treinar e dividir quase todos os dias o balneário com as minhas “babes”. Nas primeiras semanas ainda acreditávamos que íamos voltar e acabar época. Quando soube que não íamos poder jogar foi muito triste. Ainda por cima íamos começar a fase dos primeiros e lutar pela subida de divisão. Todas queríamos realizar este sonho de fazer o espinho subir à primeira divisão. Fiquei desolada por não o poder fazer com aquele e grupo, todas ficámos.
Para mim não foi bem uma transição. Não foi uma troca de Espinho pela Académica. Não saí do Espinho porque ia jogar para a Académica. Já não estava a conseguir conciliar a minha vida desportiva com os meus compromissos profissionais. Estava a começar a ficar completamente desgastada, física e psicologicamente. Andava sempre a correr, muitas vezes chegava atrasada e já nem sequer conseguia ir a todos os treinos. Mas eu queria sempre estar presente para o grupo, para as minhas colegas. Foi muito difícil tomar a decisão e dizer que não ia conseguir fazer parte do grupo na época seguinte. Mas cheguei a um ponto que tive de pensar um bocadinho mais em mim. Sabia que não ia conseguir assumir um compromisso tão grande que iria exigir de mim mais do que iria conseguir dar à equipa, às minhas colegas, ao meu clube. Estava decidida a abrandar e a ter mais tempo para mim.
A Académica surgiu numa altura em que ainda estava a sentir bastante a morte do meu avô e senti que de alguma forma estava a ter a oportunidade de prestar a última homenagem. Vestir a camisola do meu avô no seu clube de coração! O projeto da Académica não implicava um compromisso tão grande como o do Espinho e ia acabar por conseguir ter mais tempo para organizar a minha como tinha idealizado quando decidi deixar de fazer parte da equipa do Espinho.
Sinto-o sempre quando entro no pavilhão da académica. Eles colocaram uma fotografia dele no pavilhão e a primeira coisa que faço agora quando lá entro é olhar para ele. Passei tanto tempo com ele naquele pavilhão. Era o nosso sítio. Desde pequenina lá ia eu com o meu avô ver todos os jogos de hóquei. Ele adorava ser treinador de bancada (sorrisos!), sempre a dar indicações. E o melhor é que os jogadores olhavam para ele e ouviam o que dizia.
É um orgulho ver o nome dele na escola de patinagem. Também fiz parte da escola e todos os fins de semana estava lá com ele. Tive o privilégio de ter o melhor treinador só para mim. E ainda me lembro que durante a semana, se ele tivesse a oportunidade e me conseguisse convencer, lá íamos nós para académica andar de patins os dois.
É sempre a correr. Acordar em cima da hora, pequeno almoço a correr e seguir para a empresa. Sou engenheira de produção e adoro o que faço. Adrenalina máxima todos os dias. No fim do dia, se não fosse a pandemia, o normal seria ir direta da empresa para o pavilhão nos dias de treino ou beber um copo com amigos numa esplanada qualquer. Tendo em conta esta situação tento fazer pelo menos parte física em casa. No fim de semana tento abrandar um bocadinho o ritmo e focar-me nos acabamentos do meu apartamento (orgulho máximo! Finalmente estou a preparar-me para abandonar a casa dos pais (sorrisos!). Ah, e uma das coisas que não abdico ao fim de semana é de ir até lá baixo ver o mar.
Agora até me fizeste pensar. Mas não, não tenho nenhum amuleto. Não sou supersticiosa. Acredito muito mais no esforço e dedicação do que na sorte. O mais próximo de um amuleto para mim só se for o elástico do cabelo que uso para treinar. Normalmente uso sempre o mesmo durante a época.
Que memória boa de relembrar. Essa brincadeira começou depois de um jogo contra o Sporting na Nave em que ganhamos 3-1 e eu fiz muitos pontos de block out. Sei bem que não sou muito alta para jogadora de voleibol e também não salto tanto como devia (tristeza máxima). O meu pai goza comigo. Diz que não herdei os genes dele que saltava mais de um metro. Não sendo muito alta e saltando pouco tinha de me safar de alguma forma mais técnica.
Tenho três músicas que estou sempre a ouvir no carro. “Brillo” da Rosalia com o J. Balvin, “Uma Lua” dos Melim e “Watermelon Sugar” do Harry Styles. Sou menina para ouvir estas músicas em loop o dia todo.
Todos os livros do Harry Potter. Foi sem dúvida a saga que marcou a minha infância e adolescência. Recentemente voltei a ler todos os livros outra vez e na época de Natal faço sempre maratona dos filmes. Sou completamente viciada.
O meu avô adorava o desporto e passava horas a contar-me as mil histórias da vida desportiva dele. Uma das coisas que dava sempre para perceber era que ele gostava de ganhar. No entanto, apesar de ver o brilho nos olhos dele quando falava das vitórias, sempre me disse que nunca devemos achar que somos melhores do que ninguém, nem deixar que achem que somos inferiores. O meu avô tinha um feitio filho da mãe (a maioria dos amigos dele ou as pessoas que tiveram algum contacto com ele devem achar o mesmo – sorrisos!) e não deixava que ninguém o deitasse abaixo, pelo menos sem dar luta. Para ele, a única forma de provar alguma coisa tinha de ser dentro do campo com esforço, dedicação, atitude e, acima de tudo, muito amor à camisola. Isto era o que ele me tentava incutir sempre que relembrava alguma história do passado.
Francisco, o Espinho vai ser sempre o me clube de coração. Foi o clube do meu tio Valter (irmão do meu avô) e da minha tia Clara. Foi o clube onde o meu avô e o meu pai jogaram. Vai ser para sempre o clube do Toninho e do Sr. Abílio. É clube dos Desnorteados (um obrigado especial ao Victor Gomes que sempre foi incansável a puxar por nós em todos os jogos). O clube dos grandes jogos na Bombonera. O clube que me viu crescer e que ajudou a moldar a pessoa que sou hoje. O clube que me deu alguns dos melhores momentos da minha vida. O clube que me deu amigas e amigos para a vida. Ri e chorei muito de tigre ao peito. Vai ser para sempre o meu clube. O meu Espinhinho.
Pela Académica tenho um carinho imenso. Foi sempre o clube de coração do meu avô, da minha mãe e do meu tio Valter (filho do meu avô). É o clube onde tenho algumas das memórias mais bonitas com o meu avô. Nunca vou esquecer os dias que passámos no pavilhão a andar de patins os dois, a ver jogos de hóquei, de voleibol, de hóquei em campo. E quando ele me levava aos trampolins? Era felicidade pura mim!
Numa final entre Espinho e Académica, independentemente do emblema na camisola, de certeza que me ia lembrar do que o meu avô me disse uma vez…”as finais são para se ganhar”.
Sinceramente, em relação à terceira divisão, já não espero nada. Não sei se vamos voltar. O que eu quero mesmo é ver o Espinho subir à primeira divisão. Quero ver as minhas amigas fazerem o que queríamos ter feito antes desta pandemia acabar com o nosso sonho na época passada. Posso já não fazer parte da equipa, mas vou estar lá a festejar com elas de certeza.
Acho que todos em algum momento da nossa vida pensamos que se tivéssemos feito as coisas de outra forma ou feito outras escolhas, de alguma forma seriamos mais felizes. Mas sabes o que acho? Se mudasse alguma coisa no meu caminho, possivelmente não seria a pessoa que sou hoje. Acredito muito que todas as decisões que tomamos e todos os caminhos que escolhemos, certos ou errados, moldam a nossa personalidade. O truque é saber lidar e aprender com as consequências das nossas ações e decisões. Acho que muitas das vezes mais vale arriscar do que ficar com a dúvida para sempre na cabeça. Podia ter o escolhido o hóquei em vez do voleibol? Podia. Mas neste momento não teria os melhores amigos que alguma vez podia imaginar. Podia ter tirado o curso na força aérea? Podia. Mas talvez não me sentisse tão realizada na minha vida profissional. Podia nunca ter jogado voleibol e nunca ter tido 12 entorses nos pés? Podia. Mas nunca iria saber todo o esforço e dedicação que a recuperação de uma lesão envolve. Nunca iria saber o que é fazer parte de uma equipa. Podia ficar a trabalhar para sempre na mesma empresa e garantir a estabilidade? Podia. Mas onde está a adrenalina? Onde está o desafio? Onde está a vontade de evoluir? Onde está a vontade de crescer e de fazer parte de outros ambientes profissionais? Por isso Francisco, a resposta é não. Não mudaria nada no meu caminho porque de certeza que não seria a mesma Rita Brandão que sou hoje e porque neste momento, independentemente se escolhi o caminho certo ou errado ou se tomei boas ou más decisões, sou feliz. Isto é o mais importante.
Humildade. Tenha perfeita noção que para conseguirmos alguma coisa é preciso esforço e dedicação. Não sou melhor do que ninguém. Nada cai do céu.
Esta é fácil. COM ananás!! (Não sejam esquisitos! Provem antes de dizer que não gostam (sorrisos!)
Bandida para os sunsets e gin para as noites de festa.
Mágico.
Budapeste.
Viajar.
Da minha vida académica, das equipas de voleibol que tive oportunidade de fazer parte nos últimos 20 anos e de todo o carinho da minha família e amigos.
Obrigada por me terem dado a oportunidade de vos dar a conhecer um bocadinho de mim e um obrigado especial ao Francisco por todo o carinho que sempre tiveste pelo meu avô.
De coração cheio,
Brandão
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